Outra coisa que se deve saber sobre James Gray, além do facto de ter Kubrick em tanta estima, e além do facto de ser um daqueles americanos que crê, sem sentido de humor, na Arte, é que tem 39 anos e o cinema que lhe interessa foi feito há mais de 30 - pelo menos, pelo menos... Desde então, segundo ele, nada aconteceu. "Sim, para mim o cinema como forma artística está em declínio. O cinema americano, por exemplo, como arte narrativa, acabou nos anos 1970. Mas acredito firmemente na narrativa e na narrativa com ressonâncias históricas e políticas, com consciência social e de género sexual. Portanto, ou estou errado ou está a História errada. E acho que estou certo."
Não há que enganar: quando fala em "cinema asiático", por exemplo, James Gray está a falar de Kurosawa, Ozu, Mizoguchi, não está a falar de Takeshi Kitano, Tsai Ming-liang ou Apichatpong Weerasethakul. E se, ao verem "Nós Controlamos a Noite", se perguntarem como é que alguém se atreve ainda a cumprir aquele classicismo - aquela perfeição de formas sob as quais vive a contradição das personagens, como num filme de... Elia Kazan ("Oh, sim, gosto muito de Kazan") -, a conclusão pode ser esta: este cineasta é um reaccionário.
"Sim, sou um conservador em termos estéticos. Politicamente não o sou. Gosto da perfeição das formas, como uma superfície em que há contradições por baixo. Se alguém me chamar reaccionário, então deve também chamar reaccionário a Edward Hopper, e isto sem me querer comparar com ele. [O cineasta] Jean-Pierre Melville dizia que é preciso mais coragem para fazer um filme clássico do que um filme moderno. Contar uma história elegante com uma mensagem complexa é qualquer coisa de brutal. Não é o que está na moda. E parece haver uma recusa do sentimento, do melodrama. A única coisa que se faz quando se faz uma obra de arte é criar uma distância irónica. Nunca se corre o risco da emoção. Olhamos para esses filmes como obras de arte numa parede".
"Sim, a minha família é complicada. Há coisas positivas e coisas negativas - é isso que faz a boa Arte: a complexidade. Há amor e ressentimento. Aquilo que somos tem a ver com os nossos pais. As relações familiares têm algo de mitológico. É isso que está nos meus filmes: o amor como potencial destrutivo. Os gregos já sabiam isso, não é novidade nenhuma. Mas não me interessa a novidade, nem a originalidade. Ler "Édipo Rei" não tem de ser uma experiência "fresca". É o oposto. E o facto de as coisas serem sempre a reescrição do mesmo é que enche a experiência de ressonâncias. A Arte é isso: não ser novo, não ser fresco".
James Gray - cinecartaz
2 comentários:
A lição é igualmente profitável no último Allen. Para ver e rever e rever e...
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