De facto, o cinema de Arnaud Desplechin surge-me como esteticamente e moralmente ofensivo, ou seja, a câmara treme aleatoriamente e, ironia suprema nestes tempos, academicamente e artificiosamente (cette tendance à la caméra tremblante qui inonde le cinéma français (chez Patrice Chéreau, Arnaud Desplechin, ou Olivier Assayas, sous la houlette de Eric Gautier) est non seulement un académisme mais aussi un artifice (car rien ne justifie cette tremblante) ), os cortes no plano sucedem-se sem sentido algum, a profusão de ângulos e de musiquinhas de fundo provocam um enjoo irreversível, tudo isto e mais uma masturbação formal dificilmente inumerável, e acho que nem é o pior…ou seja, o que cheira mesmo mal, muito mal, o que mete mesmo nojo, é a maneira como Desplechin se diverte a brincar com pessoas e com a vida – a loucura, as drogas, as doenças terminais, está tudo lá… - de forma inconsciente e a marimbar-se para qualquer principio ou humanidade. Naquela abandalhada total, naquela anarquia cheia de pose de grand auteur, carregada de uma filosofia pestilenta como caução temática e de gesto importante, os actores surgem como bonecos nas mãos de alguém que viu cinema a mais e leu filosofia a mais e que não a compreendeu. A sério, neste sentido prefiro um qualquer tarefeiro do cinema comercial americano actual, ou um qualquer Iñárritu , que como o francês, trabalham as imagens e sons com este mesmo sentido de show-off e de vazio, do que esta burguesia que estranhamente, e para mim incompreensivelmente, foi posta nos píncaros…
Isso não posso aceitar…
* sobre "Rois et reine ".
4 comentários:
De fato, acho REIS E RAINHA muito problemático em seus intentos (quase negativo no que diz respeito ao despropósito hiper-autoral, como bem disseste), mas em um de seus filmes anteriores, o magnânimo ESTHER KHAN (2000), o pretensioso Arnaud Desplechin cavou elogios estéticos que permanecerão ativos por muito tempo, em minha opinião, perdoando até mesmo eventuais atropelos, como neste filme que agora tão bem comentas... Inclusive e principalmente, no que diz respeito ao uso da música (no caso, do genial Howard Shore), que, naquele caso, suplanta a voz da protagonista (Summer Phoenix) no que seria o diálogo mais importante das quase três horas de filme. Este lance de supremacia técnico-estética eu jamais esquecerei!
PS: o que tem de fãs-clube deste cineasta aqui no Brasil não é brincadeira!
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não vi "ESTHER KHAN", quando puder apanho-o, embora a vontade não seja muita...aqui Desplechin também é muito bem visto, tal como Honoré, ao contrário dos últimos filmes de Chabrol, por exemplo...o que só me demonstra que aos abismos de um cinema cada vez mais vertiginoso e afiado, a maioria prefere a facilidade, a vaidade e o aleatório em movimento...não sei mais que diga.
o que vale para Chabrol, vale na mesma medida para Garrel. Por aqui, mete medo.
citando-me a mim próprio (cof, cof), quando falei neste filme lá no tasco : "Na minha opinião, 'Reis e Rainha' não passa de um divertimento intelectual de Arnaud Desplechin".
São coisas...
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