quinta-feira, 9 de abril de 2009



Um elenco perfeito, uma narrativa perfeita, como um mecanismo. É preciso ver a fabulosa sequência inicial (a evasão de Gian Maria Volonté do comboio) para se ter a noção do que é o cinema de Melville, uma espécie de organização onde nada falha e tudo parece estar no seu lugar. Yves Montand, assombroso, no arrombador de cofres alcoólico. A perfeição chama-se Melville.

Cinemateca Portuguesa.

Essentially, Melville's cinema is a highly complex and regulated thing within which nothing, not an edit, a gesture, a sound or a camera movement, is wasted (though it is often also stylistically adventurous). It is a curious entity, a self-conscious cinema that lacks self-consciousness. It is also a curious hybrid combining aspects of Cocteau, Bresson, Carne/Prevert, Huston and the gangster film, while at the same time producing a concomitant sense of restraint and withdrawal. Melville's cinema is essentially tonal: a sensibility (melancholy, poetic, unhysterical) which is founded upon a 'purity' of style, performance and narrative action (which is like and yet remarkably different to Bresson). Some of the greatness of Melville's later films can be found in this interpolation of a consistent, non-melodramatic, and almost abstract style with elliptical but quite classical dramatic structures.

Adrian Danks

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Uma ciência da mise-en-scène, sem dúvida. Uma perfeição. Por vezes junto ao etéreo. Celestial. Gélido nos extremos. E o mais fascinante, tudo logo transcendia para o misticismo, como em Bresson. Mas, na mesma medida em que Hitchcock quebrava a absoluta perfeição das superfícies insuflando uma demência sexual, uma extrema ironia, os jogos do destino ou uma morbidez por vezes saliente, aquilo que torna os filmes de Jean-Pierre Melville emocionantes e tocantes, de uma só vez, é a solidão em que os seus personagens habitam. Solidão, solidão por vezes extrema, mesmo que tenham uma mulher para visitar, certo companheiro a encontrar, uma discoteca para passar, lá andam eles nos seus percursos, pelas ruas, pelo fim-do-mundo… os samurais, policias ou ladrões, solitários, desconsolados, sem grande coisa a esperar da vida a não ser executar as suas tarefas e o seu trabalho na mais absoluta exactidão. Sem olhar para trás. “Le Cercle Rouge” é um relógio suíço, um exercício matemático, mas depois temos a personagem do alcoólico, a coragem com que suspende o vício e a dor para pôr em prática os seus dons – “o homem é aquilo que faz”. E por aqui, o cinema de Melville torna-se o mais acabado e o mais caloroso.

2 comentários:

Ivo disse...

Com muita pena minha não conheço a maioria dos filmes que aqui falas mas achei o blog muito interessante para consultas futuras.

já agora aproveito para dizer que adoro o ranging bull que dá nome ao teu blog.

Abraço!

DoxDoxDox disse...

Adoro o filme. "gélido" é uma expressão certeira para delinear o calculismo destas personagens. O alcóolico reabilitado para um novo "jogo de emoção" que equivalerá ao seu reacordar para a vida, a provação da sua pontaria,o mais valoroso dos seus dons, ainda que ao serviço de esquemas em que não se alinha em pleno, é efectivamente o mais interessante de todos os retratos.