*A partir de um banalíssimo fait divers vamos ter o mundo inteiro naquele ser. Fait divers que nunca nos será mostrado, qualquer flash ou qualquer back só os vamos ter pelos olhos e pelas desilusões das personagens. Tudo na tradição sequíssima de Bresson, de Melville, de Clément , na tradição do fragmento-sequência, da surdina, do esconder em vez de escancarar, na precisão sonora e imagética. Mas o que me deixou estonteado foi o modo como o filme assenta todo nas crenças e nos princípios da personagem de Delon, nas suas dúvidas, na sua confiança, no seu estoicismo. Delon é um samurai, com tudo o que isso significa e representa, alguém moldado com princípios tão altos e finos que jamais poderemos aceder à sua complexidade. Moral de ferro que tudo leva à frente e tudo põe em causa, que de tudo fica a finca-pé, precisamente a rimar com a exactidão formal procurada a cada plano. Tudo isto é salutar e é lição a tomar nos dias de hoje em que o argumento, os rendilhados dos plots e a rigidez dos modelos abafam e normalizam tudo. Aqui, a treta do assalto e a ganga envolvente podem ir perfeitamente para o caixote do lixo, Hitchcokianamente. Em “Le Battant”, como em “Le Samouraï”, o filme torna-se gigantesco a partir da presença de um homem e do que ele tem que fazer, presença que na boa tradição dos nomes já citados, só podemos sentir por fora e pelos percursos.
1 comentário:
com vontade de ver.
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