quarta-feira, 25 de março de 2009

João Ratão

«Festejado como o “herói de Santiago da Ermida”, João Ratão regressa a casa para reencontrar a namorada Vitória (a sua “Carochinha”), as intrigas de inveja e a engrenagem particular de uma aldeia portuguesa marcada por uma estrita divisão social entre a “fidalguia”, o “povo” (madeireiro) e, entre ambos, os burgueses do comércio e da burocracia (o regedor Teotónio, pai de Vitória, a que dá corpo António Silva). Filmado como uma evidente pulsão realista e um tipo de fotografia pitoresca que marcou os melhores trabalhos de Brum do Canto, João Ratão pode ser visto como um “contratipo” ficcional das Homenagens aos Soldados Desconhecidos que inauguraram este texto. É um filme bem feito sobre a reintegração de um militar – uma espécie de The Roaring Twenties à portuguesa – no qual é forçoso destacar duas sequências: o realismo épico com que Brum do Canto filma o trabalho dos madeireiros do Douro e o momento (de antologia) em que João Ratão distribui as suas prendas de guerra: um fragmento da catedral de Reims, para a madrinha fidalga, um capacete alemão, para o futuro sogro, um pedaço de arame farpado, para o rival farmacêutico, e uma camisa de noite “parisiense” para a noiva, Vitória.»

João Mário Grilo, em O CINEMA DA NÃO-ILUSÃO

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