sábado, 31 de janeiro de 2009

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Le Pont du Nord is Jacques Rivette's mystery without a solution, a thriller without a plot, a modern-day Don Quixote/Sancho Panza tale that transforms the streets of Paris into a giant board game, a maze spotted with mysterious traps, puzzling clues, and chance encounters. Rivette, obsessed as always with secret organizations and obscure conspiracy theories, understands the city as a grand mystery in itself. The people within the city do not, for the most part, know anything about the hidden structures, paths, and narratives that lie beneath their daily activities: the city is a web of strangers, randomly meeting in the streets and then setting off on their own errands. They remain mysterious to one another, their divergent purposes hidden from those they encounter in the streets, and with everyone worrying about their own stories, seldom does anyone wonder about anyone else's. This film is about two of the exceptions to this rule, two wanderers who essentially live in the city's streets, and who as a result manage to peek at the hidden rules and secret societies that exist in plain sight for those who know what to look for.

Vai e Vem

Rohmer e as cores, neste caso com tudo que se lhe diga…
Há muito que gostava de dizer que “Frontier Marshal”, de Allan Dwan, foi uma das coisas que mais me impressionaram em cinema. Por tudo, primeiramente porque é um apogeu da arte deste grande cineasta clássico. Poderia falar no inacreditável olhar/interesse por aquele mundo filmado, por aquele espaço que Dwan capta como o mais maravilhado dos documentaristas. Alguém que parece estar a descobrir um ofício e todas as suas possibilidades e segredos pela primeira vez. Um todo puríssimo, imaculado. É a elevação suprema da frontalidade. Poderia falar numa cena surreal em que, no velho oeste, acontece uma cirurgia (mais ficção cientifica). Mas o que mais me tocou, algo que também nunca tinha visto assim, desta forma, é a maneira como Dwan trata e nos deixa ver/sentir uma verdadeira amizade. Daquelas regidas por princípios e verdades fortes, inquebráveis. Em que um e outro se percebem com um simples olhar. Trata-se da amizade entre Wyatt Earp (Randolph Scott) e 'Doc' Halliday (Cesar Romero). Companheiros de copos, de tiros, de jogo, da vida. E mitológico, mas são absolutamente de carne e osso. É lindo.

(Período em que 'Doc' já andava a leite. Pelo menos quando as coisas corriam bem…)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

“Revolutionary Road” tem algumas coisas interessantes. Uma Kate Winslet e um Leonardo DiCaprio nos limites, o que é sempre salutar. Roger Deakins a não deixar margens para dúvidas que é um dos maiores, a fotografia não tem nada de bonitinho, de convencional. Enfim, certas atmosferas depressivas. Aquele inicio até promete: um casal, parado à beira da estrada, a discutir violentamente, enfim, nada que o cinema americano nos tenha oferecido ultimamente.
Mas não muito para além disto, pois apesar de toda a claustrofobia e ardência que o romance de Richard Yates poderia permitir sacar, Sam Mendes provou mais uma vez que é um cineasta bastante escolar, um aluno aplicado.
Ou seja: Billy Wilder, John Cassavetes, Jack Nicholson, a câmara que se vai movendo e ganhando mais nervo à medida que a coisa se adensa, aquelas músicas que só poderiam estar ali, o bairro e as rotinas tipicamente americanas, etc.
Têm tudo isto mas faltou o principal: violência emocional, organicidade entre as partes, sensação de irrespirável, mergulhar nos abismos daquelas personagens e daquelas vidas.
Enfim, bem filmado e bem montado, actores fulgurantes, mas no final fica uma sensação de vazio e de normalização do que poderia ter sido um vulcão.
Pensando bem, houve um filme, há pouco tempo, que tocou todos estes temas e foi muito mais extremo, mais grave, fazendo mesmo sentir a temperatura das peles e das carnes. “Little Children”, e cada vez acredito mais que esse Todd Field é especial.

(A personagem de Michael Shannon?!?! Não digo que esteja mal, mas realmente, parece uma bizarríssima colagem ao Joker de Heath Ledger…inacreditável…)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

sábado, 24 de janeiro de 2009

Ó João, o que é o Silvestre?
-É um filme. E, enquanto filme, fala por si.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Assumo a minha total indiferença pelo Woddy Allen de “Vicky Cristina Barcelona”. Tudo acontece, obviamente, em Barcelona e o cineasta é incapaz de criar alguma dramaturgia ou algum interesse extra que não passe por um encantamento serôdio e à beira da fascinação turística. A sério, este gesto de se deixar maravilhar pelos locais emblemáticos de uma grande cidade como esta – e cada actor tem direito ao seu enquadramento, ao seu bónus, igual a qualquer uma das milhentas fotos de qualquer conhecido meu que esteve nessa cidade – para destilar as velhas questões e os velhos motivos, que neste momento parecem cristalizados, ainda por cima com personagens duvidosas e com o discurso destas a denotar um esforço olímpico de parecença com Woddy, numa espécie de mimetização já tentada por tantos outros protagonistas noutros tantos filmes, é francamente cansativo e inútil.

Obviamente que “Match Point” foi um golpe fulminante – o meu filme favorito dele – por isso é pena que à gravidade e ao vislumbramento da tragédia, desse filme, só tenhamos aqui uma gravidadezinha pueril e um peso de tragédia a cheirar a água de rosas. Isto tudo e uma dispersão narrativa que sugere esta perdição do filme. A coisa mais interessante é realmente um clima oniricamente ameno e luminoso – o piquenique naquelas montanhas é magnífico – que surge por vezes e que fica como um possível caminho que o filme não seguiu. Mesmo os momentos à Bergman, à Truffaut, à Godard, não incomodam e são bonitos, os instantes de erotismo mais óbvio, se bem que fugazes, chegam a ter um certo fogo (não muito, infelizmente). Pena é tudo o resto, incluindo um certo entorpecimento de découpage, que me parece óbvio em alguns momentos.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

In

Sinceramente não percebi o porquê disto. Talvez porque foi lixado constatar que a malta, ou uma certa malta, nem sempre segue religiosamente a onda do ípsilon, que foi um dos primeiros a falar do filme. Talvez por provocação. Aí sim, é bom, quem não faça mais nada. Ou então por nada disto, que é o mais certo, eheh.

Mas agora a sério, para constatar no filme de Fincher algo “lacrimejante, cheio de gordura visual e sentimental” é preciso ter visto muito mal e ter sido muito condescendente com a * última palhaçada de Wes Anderson. Pior, é preciso ter subvertido e deixado de lado muitas crenças. Esse sim, um filme cheio de gorduras várias, chorão, cinema feito playmobil, e, o pior de tudo, betinho, muito betinho e muito bem vestido. Chic e a cheirar bem demais.

Da minha parte o Fincher tornou-se um grande cineasta em “Zodiac”, para mim um dos grandes filmes americanos da década, mas isso já são realmente gostos. Ou então, não.

De resto, a coisa não tem sido assim tão consensual. Não mesmo…

* o ultimo é que foi uma palhaçada, dos outros gosto muito.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

incrível a forma como qualquer uma das partes funciona como um todo absoluto. qualquer uma das fatias possui uma respiração, um peso, uma atmosfera, enfim, uma organicidade que vale por si. não existe um puto dum plano desperdiçado, pra encher chouriças. e isto torna o todo absolutamente harmónico. em Taipei ou em Paris. mesmo sendo um daqueles contos (ala Liang) absolutamente loucos, desfasados, com as horas trocadas. precisamente.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O poder da lábia.

No caso, William Shatner em “The Intruder” de Roger Corman. Para pôr ao lado do Robert Mitchum de “The Night of the Hunter”. Ou então não, acho que a coisa eclodia.

domingo, 18 de janeiro de 2009

jose diz:

Emmanuel Burdeau: I would say there is a very big crisis in film criticism and of course one could say that there’s always been a crisis in film criticism or there’s always been a crisis in French cinema. It’s been debated for like 10, 20, 30 years.

Bruno diz:

Como os sujeitos responsáveis pela crise podem para início de conversa discuti-la?

jose diz:

exacto

Bruno diz:

Rosenbaum tinha que ser banido dessa mesa

Bruno diz:

A merda da crítica está uma merda pq. todos querem ser o próximo Rosenbaum, o próximo Kent
Jones...

Bruno diz:

Se quiser pode colar essas frases no seu blog e atribui-las à minha pessoa

Bruno diz:

São uns imbecis anacrônicos

Bruno diz:

A discussão é anacrônica, as conclusões o são ainda mais

jose diz:

posso colocar diretamente do messanger?

(.....)

Bruno diz:

Mas o Adrian não é exatamente má pessoa, ele só é muito empolgado

Bruno diz:

E é responsável pela Rouge, que é uma boa revista

Bruno diz:

Só por isso eu diria que ele é mais generoso, menos star que Rosenbaum, que Jones...

Bruno diz:

Ele serve à crítica

Bruno diz:

Não se serve dela

jose diz:

o jones é o cumulo do show off

Bruno diz:

Sim

Bruno diz:

E tem uma coisa na entrevista com o Adrian Martin

Bruno diz:

É um sujeito que vê de tudo, e não apenas o que a Film Comment recomenda

Bruno diz:

Ele vê de tudo e tem interesse por tudo

Bruno diz:

O problema é na hora de enunciar criticamente as coisas

jose diz:

o rosembaum neste momento só quer é comer bem, beber bem e viajar de graça

Bruno diz:

Hahahahahaha

sábado, 17 de janeiro de 2009

Confirma-se. É agora que Fincher está realmente bom, grandioso, anacrónico. Não é que não existam coisas interessantes pré “Zodiac”, que realmente existem, mas foi com esse espantoso épico (cada vez mais fundamental na paisagem do cinema americano contemporâneo) que o cineasta decididamente mostrou ao que vinha. Parêntesis: “The Curious Case of Benjamin Button” é, como já muito boa gente escreveu, sobre a passagem do tempo, sobre os seus efeitos, sobre os pólos e os trajectos que este põe em evidência, sobre utopias – isto como centro do filme. Indiscutível e absolutamente tocante e complexo à sua maneira.

Mas o que torna o filme tão imponente, e logo anacrónico, é que este é precisamente o cinema mais clássico, hollywoodiano, lúcido e conciso que é produzido na América, hoje em dia. Claro que pode ser sentido cerebral e frio (não é o meu caso), mecânico e distanciado (sem dúvida, finalmente!), mas, é precisamente estes aspectos que não devem ser confundidos com alguma atitude tangentemente Kubrickiana (e muito menos académica, como alguns ignorantes afirmaram em “Zodiac”) mas sim um retorno a aspectos de “mise-en-scène” que fizeram a glória do grande período do cinema americano. Substitua-se alguma ideia de cinema demiúrgico e compreenda-se esta drenagem de sentimentalismos bacocos (tão longe de “Forrest Gump”) e câmaras a voar, precisamente como compreensão extrema do que foi um tempo e um cinema (a concisão, a lisibilidade, a duração certa, o ângulo justo, o respeito pelo homem, um certo hieratismo, etc.), tudo aplicado a um fundo imensamente triste e temos algo outra vez tão grande como “Zodiac”.

Arte silenciosa e discreta. Dito isto, o filme é um tratado estético, estão ali algumas das imagens mais fortes e pictoricamente ricas dos últimos tempos. Se pensarmos que Fincher continua a filmar em digital, não tenhamos duvidas que numa futura história vai ser o elemento decisivo na viragem (sim, falo em cinema americano, indústria e essas coisas…). Mesmo que não se goste do filme, como é possível tamanho desprezo pela componente estética no cinema, hoje em dia?

Ainda a maior tenção para a personagem de Cate Blanchett, uma daquelas criaturas que Fincher só pode ter ido roubar ao universo de Tim Burton.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

eminentemente pessoal (mea-culpa)

NUNCA mais vou brincar com imagens e sons. NÂO, não estão em todo o lado. Para qualquer fim. O direito à imagem/som e ao seu refinamento é um privilégio. Uma dádiva sublime. Uma espécie de troca por uma atitude/moral/compreensão/paciência infinita. Cósmica.

o resto são práticas masturbatórias. mercantilismo. lazer. sacanço de dinheiro. pastilha elástica. borboletas. etc. etc.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009


puta-que-pariu-de-filme...

Sinceramente é a única coisa que me apraz dizer do filme de Lumet e, sinceramente, acho que é a mais apropriada. Petardos destes tornam todo o restante cinema americano – salvo as excepções mais do que obvias, dos velhos e de alguns, poucos, novos – coisa de crianças e brincadeiras de puto. Este ímpeto radicalmente descarnado e claustrofóbico, carregado de todo e qualquer ruído da maldade dos homens (e, importantissimo, do ar do tempo) bem como do poder do acaso, altivamente nada preocupado em violentar todas as expectativas e convenções do meio e dos espectadores, é bem capaz de ser a coisa mais essencial que o cinema americano me deu nos últimos…(desta vez a sério/menos uma estrela para todos os outros grandes filmes...)

Uma verdadeira pancada, mas uma daquelas pancadas que se agradece, por ter o condão de esbater o marasmo. De resto, estão aqui as coisas perfeitamente insólitas que eu tenho visto em cinema – não me venham com merdas e com ideias feitas de “cinema moderno”, seja francês ou chinês… – assim, sem aviso, de um velho mestre. Lumet que me acaba de mostrar que a máxima fragmentação pode conter a máxima concentração e ambiguidade, jamais imaginei que assim fosse possivél…


De resto, tudo o que acho mais correcto acerca do filme está neste texto:

Daney escreveu num texto sobre A noite dos mortos vivos de Romero a respeito do Apocalipse como um tema sub-reptício e obsessivo do cinema americano. Antes que o diabo saiba que você está morto é uma versão mais estudadamente clautrofóbica e maníaco-depressiva desta tara pela entropia –Apocalipse para dentro- que corrói a boa –consciência americana desde Intolerância, os melodramas perversos dos filmes pré-Código Haynes e que encontrou no filme noir sua variante decadentista.

Lumet acompanha com um metrônomo implacável a trajetória de danação de uma família de predadores, agora desdentados.

A câmera transita de um ponto da narrativa- e do personagem- para outro através de um recuo, reenquadramento constante que dá ao filme uma profundidade em perspectiva alucinatória. Como se este constante shifting espaço-temporal de visões estendesse a teia da danação por todos os desvãos destas superfícies tão clara, ordenada e lógicamente dispostas: o mundo da corporação.

Philip Seymour Hoffman- com um pé em Charles Laughton e outro em Bela Lugosi infantilizado- é um Mefistófeles patético, agente – e objeto- da corporação, versão contemporânea do Inferno.

A fantasmagoria da mercadoria esteve poucas vezes tão bem representada no cinema contemporâneo quanto no plano final do corredor, expiação da aura platinada do dinheiro em uma linha reta, plana e árida que conduz diretamente do Purgatório ao Inferno, sem direito a apelação.
"Nathalie Granger" (Marguerite Duras) é nada menos do que uma experiência orgástica.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

brechtiano; lírico e romântico; trágico e implacavél; ultra controlado, numa surdina por vezes quase glacial; peça sinfónica entre as imagens e os sons; temperaturas variáveis; tão perto do mito como logo absolutamente distante; elíptico, misterioso e nebulosamente redentor; perfeitamente conciso, e ponto de chegada na utilização do scope, e tão agreste no seu percurso.

“Ride Lonesome” é o filme de muitas coisas contraditórias e um objecto tão acabado e impressionante. o melhor dos filmes de Boetticher que conheço e um dos melhores westerns/filmes de sempre. na boa.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Paulo Branco sobre Menahem Golan, entre outras coisas, produtor megalómano de Godard, Cassavetes, Romero, entre outros. De jóias como “Cobra”, Missing in Action”, “Bloodsport”, “American Ninja”, etc. E ainda realizador, dos bons: “The Delta Force”, “Over the Top” e outras coisas preciosas. Como disse Paulo Branco: uma personagem enorme.


Realmente, eu estava numa embrulhada muito grande. O projecto arrancou, filmámos uma parte em 35mm e as outras três em 16mm. No meio da rodagem, comíamos todos no Tobis Bar, que pertencia ao pai da minha secretária, a Carmo, de maneira a ter crédito; nem dinheiro tínhamos para táxis, andávamos todos de metro! E continuava-se a rodar. Peguei em meia dúzia de fotografias, e fui a Milão. Era a primeira vez que eu ia a um mercado internacional, e às oito da manhã, cheio de energia, encontro uma pessoa a quem disse que estava a filmar "Le Soulier de Satin", um projecto fantástico, de quatro horas, que ia estar em Cannes! "Quanto é que tu queres?" "Preciso de dinheiro para acabar o filme." "Quanto? Vem cá, e assinamos." Era o Menahem Golan, que tinha a Cannon, e que estava no mercado a avançar por todos os lados. Era um personagem enorme, e ficou com os direitos internacionais do filme. Fez um contrato com o Godard num guardanapo!

Como é que esbarrou com a pessoa certa?
Não faço ideia! Foi daquelas coisas. Soube que nessa noite ele tinha tido acesso a um crédito, no Credit Lyonais, de cem milhões de dólares para investir em filmes. Eu fui a primeira pessoa que apareceu depois de ele ter tido a notícia! Por isso é que há um negativo do "Soulier" na MGM.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Cada vez mais existem os realizadores que só querem mostrar que sabem mexer na câmara, fazer cortes estilosos, meter música e fx´s onde menos se espera – ou onde se espera – os filhos de Cassavetes ou de Stone (arghhh, perdoe-me)…ou então os lentos, os dos tais ritmos flou, derivantes da milésima mimetização de Tarkovsky, etc…
Ou seja: os que necessitam de provar a cada fotograma que são realizadores.

Depois existem os que somente querem fazer uma obra. Os que não querem provar nada. Os que por isso ganham direito ao mundo e às imagens.

Ou como me disse certa vez um amigo: mais de 90% (muito mais) do pessoal que trabalha com imagens e sons, não tem capacidade para tal.

sábado, 3 de janeiro de 2009

curtas

i) Ainda sobre “The Apartment”, depois de o filme realmente ter batido. Uma das coisas mais luminosas é a maneira como Wilder trabalha sobre o grande e o pequeno. O absolutismo assustador daquela empresa onde trabalha o personagem principal e o seu oposto, um apartamentozinho sem nada de especial e sem particular graça. Os milhares de pessoas que enchem aquele símbolo capitalista, contra a meia dúzia de sujeitos que habitam o espaço que dá titulo ao filme. A frieza e os maquinismos do oficio versus o acolhimento do lar, onde todos se conhecem. E essas passagens/mudanças de lugar produzem os seus próprios efeitos, graficamente e emocionalmente. E o mais espantoso é alguém se ter lembrado de fazer depender aqueles engravatados poderosos, e aparentemente detentores de tudo o que queiram, do tal apartamento indistinto, pequeno, feito à medida de um daqueles robôs modernos, que é o que Lemmon é quando o filme começa. Quase chega a ser irrisório o papel central de tal espaço. De resto, o homem mais alto da pirâmide a carecer de um dos mais hierarquicamente baixos. Patrão e funcionária de elevador. Etc, etc.
Vários sentidos nesta subordinação principal, quase todos cáusticos, para mim fica aquela ideia de que para dar umas qualquer lugar serve. Não é para casar, porra.

ii) Uma frase que poderia resumir “Austrália”: pastelão digital burguês.

iii) Gostei de “Burn After Reading”.
Dois motivos para eu ter ido ver “Yes Man”: 1) Jim Carrey, um dos grandes actores do mundo – certamente um dos meus favoritos – e também um dos mais lamentavelmente subaproveitados. Ponham-no num “Man on the Moon” e é uma pérola garantida. 2) Zooey Deschanel, a minha grande descoberta recente, senhora de uma graça retumbante. Quanto ao realizador, Peyton Reed, tinha visto uma coisa lá para trás e não tinha achado piada nenhuma.

Jim mais uma vez está perfeitamente genial, de um timing e de uma inteligência cómica notável, e, importante nestes tempos, alguém onde é possível sentir um caloroso humanismo, sentir um ser humano, sem resquício de marioneta. Mas, surpresa, há Carrey em topo de forma mas também há filme, que se aguenta facilmente nas canetas. Claro que o argumento não é pródigo em rasgos, claro que existem situações bastante convencionais, um arranjo para que tudo cole certo, etc. Mas tudo é de uma simplicidade e de uma humildade que só dá para admirar. Isso e uma elegância de planos e de montagem – sem a entropia habitual – que cria o espaço necessário para Carrey partir convenções de base e arrancar uma peça cómica que não apetece deitar fora. Zooey Deschanel é neste momento a maior.

* atenção a Terence Stamp.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

"Austrália" - Baz Luhrmann

Ridícula a ideia de que Baz Lurhman recuperou qualquer noção de cinema clássico para esta sua tentativa de revivalismo épico. Zero de classicismo – a não ser que se entenda tal pelo respeito dos raccords no eixo, argumento formatado, e pouco mais…– como nada de neoclassicismo. Pensem em Cimino e estamos conversados. Se se quiser uma palavra definidora dos moldes em que o filme trabalha só se poderá evocar aquele conceito, um pouco horrendo, um pouco sem sentido – pós-modernismo (arghh, como custou…). Coisa que de resto se associou a Luhrman.
Começa logo pelas personagens, autênticos bonecos, máquinas de debitar diálogo, descontextualizadas e sem nada que nos faça acreditar, que nos suspenda a descrença. Isso é mais do que evidente, o resto é ainda mais evidente – ambiências e cenários de plástico, bonitinhos – o virtual a deitar por terra qualquer possibilidade de inserção numa tradição – planos supersónicos a varrerem e a acelerarem a acção e a pretenderem deixar o cunho épico (aqueles afastamentos ao para cima, pretensão de planos totais, por favor…), uma arritmia absurda a concorrer para o aleatório total, para a completa dispersão, para um desajuste e para uma confusão que não serve de maneira nenhuma qualquer propósito, como por exemplo servia em “Moulin Rouge” (são outros vinte e não me alongo...), mas que só põe em evidência a falta de ponto de vista e de controlo dos meios, e da narrativa, que o cineasta de certeza experimentou. Sim, o orçamento monstruoso e a pretensão assumida deu cabe de qualquer possibilidade. Aceleração da acção, dizia eu, e o mais incrível é que o filme parece ter o triplo do tempo, sem rumo e sem qualquer mestria narrativa, coisa que era uma das pedras de toque de gente como O. Selznick/Fleming, Huston, etc…
É que nem se pode falar em academismo, como em “Atonement” ou em “The English Patient”, ao contrário do que a publicidade escreveu, “Austrália” não trabalha sobre modelo nenhum, sobre memória alguma, não existe nada que possa ser vislumbrado/sentido em espectro, nada que se queira cristalizado, é o caos e, repito, a inexistência de qualquer projecto. Não há uma ideia, como disse uma vez Pedro Costa, a propósito de “ A Selva”, não existe uma folha ou um corpo que mexa.

“Austrália” fica como um espectáculo do virtual, quem quiser que fique com isso, delírio de colagens (corta e cola, sem mais) ridículas de muitos planos, demasiados. Demasiados e sem qualquer lógica, à força de ter que se encontrar um formato e uma duração comercial. Como em "Indy 4", os computadores e a simplicidade/mau gosto dos filtros a impor-se a todo o momento aos rolos de película da Kodak, e, o mais importante, a qualquer concepção cinematográfica, artesanal, tradicional, etc…

Se Luhrman, e quem mais o quiser, estiver a pensar em cinema clássico, mais vale que pense em noções como lisibilidade, concisão, timing, só para ficar por aqui. Isto ao invés de queimar dinheiro e dinheiro. Neste sentido, um dos filmes mais erráticos e lamentáveis dos últimos tempos.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

…passar parte do ano a re-rever westerns de Budd Boetticher – e objectos “semelhantes” (?) – para tentar perceber como é que eles conseguiram.

Em “Buchanan Rides Alone”, o momento final em que as diversas facções lutam pelo ouro (no caso, dinheiro). O segredo é que, de facto, não existem dois grupos a disparar de cada lado – complexidade. O resto é um domínio do espaço – logo escalas, cenário.. – que poucos mais tiveram o segredo.