quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

“Revolutionary Road” tem algumas coisas interessantes. Uma Kate Winslet e um Leonardo DiCaprio nos limites, o que é sempre salutar. Roger Deakins a não deixar margens para dúvidas que é um dos maiores, a fotografia não tem nada de bonitinho, de convencional. Enfim, certas atmosferas depressivas. Aquele inicio até promete: um casal, parado à beira da estrada, a discutir violentamente, enfim, nada que o cinema americano nos tenha oferecido ultimamente.
Mas não muito para além disto, pois apesar de toda a claustrofobia e ardência que o romance de Richard Yates poderia permitir sacar, Sam Mendes provou mais uma vez que é um cineasta bastante escolar, um aluno aplicado.
Ou seja: Billy Wilder, John Cassavetes, Jack Nicholson, a câmara que se vai movendo e ganhando mais nervo à medida que a coisa se adensa, aquelas músicas que só poderiam estar ali, o bairro e as rotinas tipicamente americanas, etc.
Têm tudo isto mas faltou o principal: violência emocional, organicidade entre as partes, sensação de irrespirável, mergulhar nos abismos daquelas personagens e daquelas vidas.
Enfim, bem filmado e bem montado, actores fulgurantes, mas no final fica uma sensação de vazio e de normalização do que poderia ter sido um vulcão.
Pensando bem, houve um filme, há pouco tempo, que tocou todos estes temas e foi muito mais extremo, mais grave, fazendo mesmo sentir a temperatura das peles e das carnes. “Little Children”, e cada vez acredito mais que esse Todd Field é especial.

(A personagem de Michael Shannon?!?! Não digo que esteja mal, mas realmente, parece uma bizarríssima colagem ao Joker de Heath Ledger…inacreditável…)

3 comentários:

Luís A. disse...

concordo com a tua análise perspicaz excepto num ponto. Michael Shannon pareceu-me estar bem e merecer a nomeação.

mas sem duvida um filme que tinha tudo para ir mais alem...

abraço

Nelson Magina Pereira disse...

Também concordo com o que escreves. E sim, bem lembrado, "Little Children" tem muito mais fulgor e vai bem mais fundo na ferida. Já "In The Bedroom" tinha deixado boas impressões de Field.

Cumprimentos

João disse...

Não tinha pensado nas semelhanças com Little Children, mas agora que falas nisso, muito bem referido!