segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

INÉDITOS: LOUIS SKORECKI, OS FILMES E UMA CARTA BRANCA

[terça, 26; quarta, 27; quinta, 28 - Com a presença de Louis Skorecki]

Estreamos em Janeiro uma nova rubrica regular na programação da Cinemateca, "Inéditos", de título perfeitamente descritivo: nela tentaremos apresentar mensalmente pelo menos um filme nunca visto em Portugal em salas de cinema ou, quando fizer sentido, que nunca tenha sido visto na Cinemateca.
Costuma-se falar em "chaves de ouro" quando se trata de fechar alguma coisa em beleza. Mas desta vez a "chave de ouro" serve para abrir. Dificilmente começaríamos melhor esta rubrica do que com a descoberta, em presença do autor, dos filmes de Louis Skorecki, em especial dos seus mais célebres títulos, os da série dos CINÉPHILES, que começou por ser um díptico, depois uma trilogia, e finalmente se transformou em tetralogia, a mais aprofundada, mais crítica, mais terna e mais severa abordagem filmada da cinefilia como fenómeno cultural (e psicológico).
Esse mundo, Skorecki conheceu-o bem. Trata-se de um dos últimos grandes nomes daquela geração da crítica de cinema francesa que ainda se banhou nas águas da cinefilia clássica e fundadora, a dos anos 50/60. Contemporâneo e amigo de Serge Daney, um dos seus primeiros trabalhos de monta para os Cahiers du Cinéma (onde escreveu entre o princípio dos anos
60 e o final dos anos 70) foi uma viagem a Hollywood de onde voltaram (ele, que ainda assinava com o pseudónimo Jean-Louis Noames, e Daney) com reportagens e entrevistas feitas a Howard Hawks, Raoul Walsh, Samuel Fuller e outros cineastas americanos, textos e documentos que se lêem hoje como um dos primeiros grandes impulsos para uma "história oral" do cinema clássico americano.
Tal como Daney, também Skorecki se mudou para o Libération no princípio da década de 80, não sem antes deixar publicado nos Cahiers, em 1978, o seu mais célebre e discutido artigo, "Contre la Nouvelle Cinephilie", que fortemente associava a cinefilia à experiência da sala e à coexistência de um determinado grupo de pessoas no mesmo sítio, durante o mesmo tempo e perante o mesmo filme – mais tarde Skorecki ensaiou uma versão filmada deste artigo, que também vamos ver. No Libération Skorecki dedicou-se essencialmente a uma pequena crónica diária sobre filmes encontrados na programação das televisões francesas. Estas pequenas crónicas, muito curtas mas buriladas na perfeição, tornaram-se objecto de um culto que se expandiu (mundialmente, pode-se dizê-lo) a partir do momento em que o "online" deixou o Libération disponível nos quatro cantos da Terra. Num estilo inconfundível que casava a teoria e a emoção, o saber e as idiossincrasias do gosto, a altivez e o sentido de humor, estas crónicas (de que foi publicada, no final dos anos 90, uma compilação em livro, Les Violons ont Toujours Raison) perfazem uma espécie de súmula da crítica (e da poética) de Skorecki, havendo aliás vários
ecos em comum entre elas e os seus filmes. Skorecki saiu do Libération em 2007, na sequência do processo conturbado que o jornal atravessou. Fez disso o assunto (ou o pretexto) do seu último filme, SKORECKI DÉMÉNAGE.
E já que o tínhamos aqui na Cinemateca para mostrar os seus "inéditos", demos-lhe uma "carta branca". Para começar, Hawks e Walsh, dois cineastas da sua especial predilecção (sobre Walsh tem um belíssimo ensaio publicado em livro, Raoul Walsh et Moi). O resto das suas escolhas, e porque o calendário ditou que assim fosse, fica para Fevereiro.

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LES CINÉPHILES 1: LE RETOUR DE JEAN
de Louis Skorecki
com Marie Nester, André Nouhaem, Pierre Léon, Vladimir Léon
França, 1988 - 70 min / legendado electronicamente em português

LES CINÉPHILES 2: ERIC A DISPARU
de Louis Skorecki
com Sébastien Clerger, Noémie Lvovsky, Nathalie Joyeux, Pierre Léon
França, 1988 - 54 min / legendado electronicamente em português

Com estes dois filmes, rodados por ordem inversa da sua numeração, se iniciou aquilo que cerca de vinte anos mais tarde se veio a tornar uma série, ou antes, e nas palavras de Skorecki, uma “saga”, sobre “as baboseiras de uma tribo de cinéfilos, e sobre os seus costumes (poéticos, téoricos, sexuais)”. O elenco foi recrutado entre autênticos “cinéfilos”, frequentadores dedicados e obsessivos das salas de cinema parisienses, uma delas a da Cinemateca Francesa (em cujas imediações, autenticidade “oblige”, alguns planos foram filmados). Com as suas cenas assentes em diálogos (nem todos sobre cinema; muitos sobre os relacionamentos dentro da “tribo”),
formando e desfazendo pares de personagens à medida dos encontros e desencontros, LES CINÉPHILES fala da cinefilia e da disposição (psicológica) para a cinefilia, em seriedade e irrisão, num humor crescentemente percorrido por uma espécie de tristeza. Sem falsas modéstias, Skorecki afirmou que o único outro filme que trata verdadeiramente da cinefilia é o LES SIÈGES DE L’ALCAZAR de Luc Moullet.

Sala Dr. Félix Ribeiro
Ter. [26] 21:30


RIO BRAVO

Rio Bravo
de Howard Hawks
com John Wayne, Dean Martin, Ricky Nelson, Angie Dickinson, Walter Brennan
Estados Unidos, 1959 141 min / legendado em espanhol

Um dos mais famosos westerns de sempre, e a obra-prima de HowardHawks, que o fez em resposta a HIGH NOON de Zinnemann. Um grupo de homens com uma missão a cumprir é o tema geral dos filmes de aventuras de Hawks, neste caso a de manter a ordem numa pequena cidade, e levar a julgamento um assassino. Mas é também, como todos os filmes do realizador, uma fabulosa variação sobre a “guerra dos sexos”, com um fabuloso duelo verbal entre Wayne e Angie Dickinson.

Sala Dr. Félix Ribeiro
Qua. [27] 19:00


LES CINÉPHILES 3: LES RUSES DE FRÉDERIC
de Louis Skorecki
com Julien Naveau, Axelle Ropert, Louis Rostain
França, 2006 - 32 min / legendado electronicamente em português

LE RETOUR DES CINÉPHILES
de Louis Skorecki
com Axelle Ropert, Nathanaëlle Viaux, Sarah Hams
França, 2008 - 52 min / legendado electronicamente em português

CONTRE LA NOUVELLE CINÉPHILIE
de Louis Skorecki
com Xavier Villetaird, Edouard Waintrop
França, 1984 - 70 min / legendado electronicamente em português

Quase vinte anos depois, e com o objectivo de estabelecer uma trilogia para a edição DVD da série dos CINÉPHILES, Louis Skorecki acrescentou um terceiro tomo, LES RUSES DE FRÉDERIC. É um estilo diferente (mais “téorico”) do dos dois primeiros, e muito marcado pelos temas da transmissão e da passagem. Com o que “sobrou” deste terceiro filme e ficou de fora da montagem final concebeu Skorecki um quarto episódio, LE RETOUR DES CINÉPHILES. A sessão fecha com CONTRE LA NOUVELLE CINEPHILIE, que Skorecki descreve como a “demolição” do seu célebre artigo homónimo escrito para os Cahiers du Cinéma em finais dos anos 70. “Alguma coisa de inteligível sobrevive ao desastre? Eu acho que sim”.

Sala Dr. Félix Ribeiro
Qua. [27] 21:30


L’ESCALIER DE LA HAINE
de Louis Skorecki
com Pierre Brody, Thérèse Giraud, Joseph Morder, Louis Skorecki
França, 1982 - 41 min / legendado electronicamente em português

SKORECKI DÉMÉNAGE
de Louis Skorecki e Raphael Girault
com Louis Skorecki, Louis Rostain
França, 2009 - 63 min / legendado electronicamente em português

“O mais pessoal dos meus filmes (e o preferido do meu amigo Daney)”, diz Skorecki de L’ESCALIER DE LA HAINE, espécie de fábula (Skorecki interpreta a personagem de um rato…) sobre um grupo de personagens que habita o mesmo espaço acreditando que os outros não estão lá. Se este é uma fábula, SKORECKI DÉMÉNAGE, último título acrescentado à filmografia skoreckiana, é uma efabulação em torno dos acontecimentos que precipitaram a sua saída do Libération, para onde escrevia desde o princípio da década de 80.

Sala Dr. Félix Ribeiro
Qui. [28] 19:00


LES PIEDS DANS LES NUAGES (ET LA T TE DANS LA LUNE)
de Louis Skorecki
com Laura Matthews de Saint-Phalle, Emmanuel Crimail
França, 1966 - 20 min / legendado electronicamente em português

EUGÉNIE DE FRANVAL
de Louis Skorecki
com Françoise Grimaldi, Cécile Le Bailly, Elisabeth Boland, Louis Skorecki
França, 1974 - 105 min / legendado electronicamente em português

Louis Skorecki descreve EUGÉNIE DE FRANVAL (adaptação de Sade) como o seu filme “mais formalista, o único a ter circulado nas cooperativas de cinema experimental”, assente num conflito entre a banda de imagem e a banda de som. LES PIEDS DANS LES NUAGES foi, “sob a influência do BANDE À PART de Godard”, a sua primeira aventura como realizador de cinema.

Sala Luís de Pina
Qui. [28] 22:00


BAND OF ANGELS
A Escrava
de Raoul Walsh
com Clark Gable, Yvonne de Carlo, Sidney Poitier
Estados Unidos, 1957 125 min / legendado electronicamente em português

BAND OF ANGELS, situado num contexto semelhante ao de GONE WITH THE WIND, conta a história de uma mulher branca que descobre, quando lhe morre o pai, que a mãe era negra. É vendida como escrava a um aventureiro. A escrava e o seu senhor terão de assumir o seu passado para conquistar a liberdade.

Sala Dr. Félix Ribeiro
Sex. [29] 21:30

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