quinta-feira, 30 de julho de 2009


Finalmente pude ver o “Documento Boxe” de Miguel Clara Vasconcelos. Durante o filme até estava a pensar que nem era nada de extraordinário, e há que dizer que certas coisas irritam mesmo – aquela brincadeira com a velocidade do obturador e os antetítulos bem que poderiam ter ficado na mesa de edição, comparativamente com a secura geral quase soa a artificialismo espertinho.
Mas depois há pelo menos duas coisas milagrosas, a primeira é a forma como se interessa – de forma absolutamente contemplativa e apaziguada – pela realidade que trata, as conversas e vivências daquele mundo de homens, quase um universo cifrado e de códigos próprios – como um western, ou coisa assim – o companheirismo, perto do filme de grupo classicista, enfim, um interesse por ambientes e lugares que as imagens raramente assim visitem, sem sombra de cliché.
Depois, e isto acima de tudo, existe um Homem, Jorge Pina, num retrato comoventíssimo de um pugilista que é também escritor, instrutor, actor, etc. A forma como o realizador lhe dá todo o espaço e tempo para ele se revelar e para o deixar existir e se espraiar é um grande gesto de humildade e de sabedoria cinematográfica. E por aqui o documento torna-se gigante.

Sem comentários: