quarta-feira, 8 de julho de 2009


Vila do Conde, III

“A Letter to uncle Boonmee”, Apichatpong Weerasethakul

É uma dádiva para alguém, no caso, para o tio do cineasta tailandês. Impressiona logo desde o início: uma voz-off com a mesma função dos duplos planos que os Straub tantas vezes já aplicaram. Ouvir a mesma coisa duas vezes produz um impacto dificilmente explicável, violentamente sentido. Ao mesmo tempo que a sensualidade dos planos sequência Mizoguchianos – peço perdão pelo abuso, mas foi do que na sala me lembrei – que percorrem a casa e a mágica floresta exterior até chegarem aos corpos, num olhar contemplativo, sensualista, escorregadio, quase lúgubre pelas memórias que estão em jogo e pelos contra-campos indizíveis, nos entregam uma experiência sensorial e magnética estranhíssima e completamente irresistível. É a matéria do impenetrável e do fantasmático. Aquele plano em que a câmara sai janela fora e o vento faz amor com as árvores e o resto é uma ode magnânime ao génio da natureza e das coisas.

2 comentários:

Gomorra disse...

Uh-lá-lá...

Filme novo do Apichatpong Weerasethakul?! Desde já, estou muito ansioso. pena que este tipo de obra-prima demora eternidades insuportáveis para chegar ao Brasil...

WPC>

José Oliveira disse...

sim, mas uma curta-metragem, 17 minutos que valem por centenas de outras longas.

Abraço.