Em 1939 já John Garfield
Ran All the Way, mas como ainda estava longe das pulsações e das
escalas mortalmente e sexualmente tensas de John Berry, embalado
apesar da sofreguidão pelo movimento lancinante e concordante de
Busby Berkeley, a meta negra lá foi sendo adiantada, na vagarosidade
de um abraço final puramente terno. “They Made Me a Criminal”
aguenta-se e evolui numa estranheza e numa moral que não advém de
nenhum credo mas sim das vísceras singulares, e então já temos
toda a sorte de Garfield, logo na largada. Na partida, um ringue, um
lutador, um inocente herói, e logo a seguir a desmontagem de tudo
isso, perdendo-se o herói quando a sua natureza não lhe dá
hipóteses de retaliação. No último combate, o ringue, a tentativa
de disfarce, o amor e os filhos como transcendência, mas a sua
verdade, o seu orgulho não arrogante mas intrínseco como tantos que
são fabricados heróis no cinema americano, impõe-se para surgir a
rampa da perdição. Nos meios, em velocidade cruzeiro ou suando
sangue, com a tentação e a mentira na cabeça mas a essência
disponível, foi conquistando todos os corações, os de manteiga
como aqueles trancados a ferros. Conclusão, nada óbvia, nada certa,
não aconselhável, das únicas vezes que mandou a mascarada às
urtigas salvou-se tramando-se – escondido para ser feliz,
bicho-do-mato que nesse mato conquistou todas as luzes e notícias do
mundo, com um empurrão do anjo improvável de que não se acredita.
É doce e amargo, e pode ser que o Filme Garfield seja de facto só
um, interrompendo-se em 1951, com peças espalhadas por todos os
lados, mas num todo dolorosamente compreensível; pode ser que o
provisório seja o centro deste filme, queimando ainda mais o abraço.
Seja tal amor o ferro fundido que dobra toda a pulsão ou seja a
pulsão dobra soberana, é o que este essencial Garfield nos propõe,
em double bill com o muito menor “Nobody Lives Forever” de Jean
Negulesco. Não é questão de pouca medida, sobretudo porque fala
das escolhas dos loosers dos passeios da mesma forma que das escolhas
dos reis do mundo. E também do instante como absoluto. O abraço, as
raivas e o sorriso completamente inesperado de Ann Sheridan. “Force
of Evil” enlaçado com “Gentleman's Agreement”. Todo o rugoso
rolo e o Absoluto.
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