terça-feira, 22 de dezembro de 2015


Em 1939 já John Garfield Ran All the Way, mas como ainda estava longe das pulsações e das escalas mortalmente e sexualmente tensas de John Berry, embalado apesar da sofreguidão pelo movimento lancinante e concordante de Busby Berkeley, a meta negra lá foi sendo adiantada, na vagarosidade de um abraço final puramente terno. “They Made Me a Criminal” aguenta-se e evolui numa estranheza e numa moral que não advém de nenhum credo mas sim das vísceras singulares, e então já temos toda a sorte de Garfield, logo na largada. Na partida, um ringue, um lutador, um inocente herói, e logo a seguir a desmontagem de tudo isso, perdendo-se o herói quando a sua natureza não lhe dá hipóteses de retaliação. No último combate, o ringue, a tentativa de disfarce, o amor e os filhos como transcendência, mas a sua verdade, o seu orgulho não arrogante mas intrínseco como tantos que são fabricados heróis no cinema americano, impõe-se para surgir a rampa da perdição. Nos meios, em velocidade cruzeiro ou suando sangue, com a tentação e a mentira na cabeça mas a essência disponível, foi conquistando todos os corações, os de manteiga como aqueles trancados a ferros. Conclusão, nada óbvia, nada certa, não aconselhável, das únicas vezes que mandou a mascarada às urtigas salvou-se tramando-se – escondido para ser feliz, bicho-do-mato que nesse mato conquistou todas as luzes e notícias do mundo, com um empurrão do anjo improvável de que não se acredita. É doce e amargo, e pode ser que o Filme Garfield seja de facto só um, interrompendo-se em 1951, com peças espalhadas por todos os lados, mas num todo dolorosamente compreensível; pode ser que o provisório seja o centro deste filme, queimando ainda mais o abraço. Seja tal amor o ferro fundido que dobra toda a pulsão ou seja a pulsão dobra soberana, é o que este essencial Garfield nos propõe, em double bill com o muito menor “Nobody Lives Forever” de Jean Negulesco. Não é questão de pouca medida, sobretudo porque fala das escolhas dos loosers dos passeios da mesma forma que das escolhas dos reis do mundo. E também do instante como absoluto. O abraço, as raivas e o sorriso completamente inesperado de Ann Sheridan. “Force of Evil” enlaçado com “Gentleman's Agreement”. Todo o rugoso rolo e o Absoluto.  

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