Vale sempre recordar a
doutrina de Phil Karlson, cineasta: veracidade, natureza, osso,
implicação. “5 Against the House” pertence ao género dos heist
movies mas está no oposto deles. Nada tem a ver com os Ocean’s
Eleven pois o que é estilização, cool, maneirismo ou acessório
não passa no filtro moral que entende a arte como razão de
existência. Interessa saber como todas as coisas que a câmara
capta, seja a realidade ou a ilusão, respiram e transpiram. O grande
golpe, aqui pequeno, ridículo e inverosímil, só acontece por causa
do grande medo, do tédio (com desemprego e sem desemprego) e da
rejeição que os homens tremelicantes, apesar da aparente ligeireza
com que soltam as piadas, auguram e sentem mesmo ao arrepio nas
desprotegidas espinhas. Homens que não só viram a guerra mas que a
transportam na carne e nos nervos como constituição orgânica,
facto que nos anos 50 do século transacto serviu de dínamo para o
irracional e para o extraordinário tal como nestes nossos tempos as
drogas políticas e publicitárias. A guerra é a pressão que a
todos devasta e a imagem do mal que a raça humana sempre teve
necessidade de sustentar para que as coisas se mantenham na ordem da
farsa produtiva. Assim, a personagem famosa e “sem problemas” de
Kim Novak é tão decisiva e central como a do atormentado e
fabuloso, porque sem margem para encenação (traição), Brian
Keith, arrastada pela corrente da escória do seu tempo que como hoje
tudo aplana em silogismos e genocídios. Mal, farsa, medo, depois
disso ou nisso, só à selvajaria compete regressar – os elementos
do golpe regressam aos primórdios, ao tempo dos cowboys, tudo viram
do avesso, lei e caos no mesmo raio, as piadas cessam e as lágrimas
vertem, e aí sim, pela ousadia parece haver uma nova esperança.
Repara-se como no começo (voltando depois nos finais e nos meios)
Karlson nos deixa a ver tempo demais para as regras dramatúrgicas os
elevadores dos carros; ou como no primeiro engate o rapaz pede ao
competidor que se chegue para lá e deixe a rapariga para ele, e logo
o plano de conjunto de três passa abruptamente para dois -
veracidade, natureza, osso, implicação, e faltou intuição, que
nos perfeitos timings com que tudo é rodado e unido permite entrar
todo o ar do documento e do indomável. Se rareiam músculos e
sensibilidades destas, se calhar porque não têm uma fábrica
propícia ou uma comunidade, lembremo-nos do “Thief” de Michael
Mann ou das prisões de Ventura em “Cavalo Dinheiro”, para se
voltar sempre à conclusão que interessa o génio ou simplesmente a
pintura emocional que está à frente e não o espectáculo técnico,
essa ilusão de poder.
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