“Framed” não é a suposta
despedida crepuscular nem mesmo apoteótica de um grande realizador
de cinema como é o caso de Phil Karlson. Decorria 1975 e os
holofotes estavam virados para tudo menos para estas pequenas
intimidades justiceiras, e no lusco-fusco há coisas que importa
reter. Da porrada até à morte que lança o filme e começa a
escancarar a podridão da montagem social, até ao piscar de olhos e
juntar de lábios que o plano final congela marimbando-se para o
disfarce em direcção ao intervalo do amor, há novamente uma
cruzada que continua visceralmente a de “Walking Tall”. Porrada
mortal em seco, em ossos, em pó, como a morrer de sede, esganiçada,
num campo contra-campo concentracionário que aprisiona toda a tensão
e brutalidade para a soltar num silêncio apocalíptico que é a
imagem e cerne do filme. Junção de corpos derradeira que só aponta
à dissidência para a junção familiar dos que se reconhecem, e que
é apontada pelo polícia negro, possa começar a ser verdade.
Verdade, precisamente, é a fome de Joe Don Baker, que estando agora
do lado contrário em relação ao filme anterior – de que este é
sequela ou prequela – se faz pedra salvadora na destruição da
engrenagem que importa. Num mundo onde bem e mal já há muito
vestiram as mesmas indumentárias e partilharam os mesmos cabides, só
o lado animal é capaz de ousar a distinção e destrinçar, roendo,
roendo e estraçalhando, roendo e descarnando, passando por cima de
hemorragias e implosões, até uma nova camada original começar a
vir ao de cima. Karlson continua a utilizar o zoom para o trabalho
porco e para lavar roupa suja, insistindo no estático como
reforçamento de fundações invioláveis. Neste chão escorregadio,
palhaçadas onde as identidades e entidades se desmultiplicam,
atrapalham e baixam ao grau nulo, só olhar olhos nos olhos –
resulta até com cães raivosos, como se prova numa cena fulcral –
e o assumir-se plenamente – a cena final ou a evidência de que o
talento de JDB é o jogo tal como o de Billy the Kid são as pistolas
e a liberdade – procedem na procura de limpidez, que é o que
Karlson ainda continuou a procurar desde os anos 1940. A aço e a
fogo, com zoom e frontalidade. Tarefa e crença que justificam todas
as caras e peles rasgadas que o duro Baker aguentou neste díptico.
Do lado dos bravos. Luminosamente, antes ou depois do crepúsculo.
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