“The Chase”, a
obra-prima de Arthur Penn, acaba com o xerife Brando e a mulher a
virarem costas a um solo e a uma missão que já fedeu mal demais.
“Walking Tall”, penúltima obra de Phil Karlson, começa
imediatamente a seguir. Estamos perante um dos filmes mais
representativos dos anos 70 americanos – porque um dos seus
melhores e metido das unhas aos cabelos na fossa em causa – e
absolutamente afastado das imagens de marca, sempre a trabalhar ao
lado do instante e da emoção como por aí só me lembro do Richard
Fleischer de “The New Centurions”. Joe Don Baker, ex-fuzileiro
(fuzileiro para sempre), ex-domador de feras, decidiu voltar as
costas ao Sistema para todo o sempre, ámen, e chega a uma nova terra
disposto a esquecer tudo e a ser feliz de novo com a mulher e filhos
e cão. Só que, deve-se aprender antes do tarde demais, os problemas
não passam por causa da terra dar uma volta sobre si mesma nas horas
estudadas, as coisas não se esquecem num amanhã perfeito e novo,
mas devem resolver-se antes de mais, olhos nos olhos, no agora,
questão de vida e de morte sem volta a dar. A aurora de WT é bela,
idílica, cheia de grandes-planos pequeninos e a lembrar a candura e
os paraísos ainda possivelmente virgens de Robert Mulligan. O pai de
família volta à casa de onde nunca deveria ter saído, disposto a
não errar a segunda vez dos idiotas, compra o novo lar doce lar,
vende as coisas antigas e jura paz e amor. Mas os problemas, como as
resoluções de ano novo, não se resolvem mudando as aparências e
as superfícies. Imediatamente os planos começam a torcer-se, o
clássico cineasta começa a descobrir e a decifrar e a rejeitar o
zoom, as lateralidades que a frontalidade e verticalidade sempre
desdenharam ganham o quadro, e os fundos e os cancros começam a
ganhar posição e a alimentar uma fealdade que não mais parará de
crescer entre crânios arrebentados e casamentos para sempre. Daí
para a frente essa câmara, o olhar, a encenação a ferros domada,
dirigida, torna-se fazedora de justiça, ora expondo para si as leis
sempre ambíguas e fantásticas dos homens, ora entrando em terrenos
Salomónicos. Don Baker entra onde Brando tinha estado na fúria
triste de Penn e junta um negro clamante de comunidade e uma
prostituta a morrer de solidão que pede um só carinho, um só que
seja. Os tiros entram nos quartos das crianças, nas cabeças dos
amados, a papelada vira o feitiço contra o feiticeiro, a beleza é
cuspida e emporcalhada por quem não mais viu um sol a bater num lago
e tais revelações, uma criança vai à cama do hospital amarrar a
mão do Pai e uma arma lamentosa que nunca poderia ter sentido nessa
composição mas que tem pois o mal passou a fronteira permitida; a
explosão final coloca alguma coisa no devido lugar, unindo
finalmente o inseparável. A personagem mais abjecta do filme, aquele
monstro engravatado que fala do choque entre o idealismo e a
realidade como se fosse coisa para gozar, personagem que de certeza
criou os tipos dos disparos gratuitos, vai ver nessa catarse
redentora a nulidade da sua fórmula. Quando a Comunidade se faz um
universo genuíno, infinito e sublime – mais do que justiça
Salomónica é o natural em evolução – o sonho e o seu contrário,
o possível e o impossível, utópico ou terreno, perdem a
significância, mais do que isso, a convenção, para se alcançar o
equilibro primitivo onde se deveria ter permanecido. O princípio, e
quem tem razão já é o genérico final com o olhar para trás de
Don Baker e a música de Johnny Mathis. Fabuloso, sobretudo porque a
força da natureza e a moral, as coisas e os seres, se formaram um. O
princípio. Daqui e da ponta mais longínqua.
Sem comentários:
Enviar um comentário