“Loulou”, de Maurice Pialat. Outro daqueles choques estéticos e emocionais ao qual se pode perfeitamente equiparar uma valente carga de pancada. Violência da câmara a querer sugar visceralmente e sedentamente a realidade e aqueles corpos, frequentemente despidos. Violência da montagem que muitas vezes corta o plano como se de uma navalhada bem desferida se tratasse. A impetuosidade emocional é que vem de vários sítios. Acho que nem tanto da constante copulação de Depardieu com Huppert (autênticos animais), que Pialat mostra sem qualquer resquício de complexos, ou, pior, respeito pela audiência; nem tanto do erotismo aflorado; mais daquela atitude libertária e a borrifar-se-para-literalmente-tudo dos protagonistas. Desde o modo como falam, como assumem o desejo de não fazerem pevides, até à maneira como se expõe, impudicos e com zero preconceitos, etc. Interessa é viver bem, dar umas, beber umas cervejas e fumar, fumar muito...
Por vezes quase parece uma reactualização, ou uma versão hardcore, de um “Domicile conjugal”, sem romantismos cor-de-rosa e sem pudor de qualquer espécie. Mais marcadamente num tempo e numa realidade, fora do cinema. Certo que isto do emocional tanto vem da forma como do conteúdo.
Depois, pessoalmente, também acho que estes petardos de Pialat – belo diptico com “À nos amours”, três anos depois – só servem para relativizar a suposta crueza, e o cinema de excesso de realismo, que mais tarde iria fazer a gloria dos irmãos Dardenne, dos Dogmas 95 e afins, já para não falar em Gaspar Noé e numa série de cinema descarnado e pseudo viril. E como eu gosto dos Dardenne e de muitos dos afins…
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