domingo, 19 de outubro de 2008

ainda a apanhar filmes americanos recentes...

Desconhecido para mim, Billy Ray é um dos cineastas a seguir na América de hoje. “Breach” é um daqueles preciosos momentos que passam despercebidos, por não causarem qualquer ruído, pela sua serenidade, pelo marketing que não tem muito. E continuamos no thriller, mas aqui de outra dimensão – inteligente, atento ao humano e às suas contradições, interessado em erigir um olhar e não apenas em deixar marcas a todo o custo.

O que me leva a pensar que existem dois tipos de cineastas (não contando com os que não o são), uns que pretendem mostrar a cada plano e a cada corte o seu virtuosismo, de Jordan a Polanski, de Nolan a Cuarón. Outros que são simplesmente trabalhadores, que não precisam de escancarar o processo, que se dedicam a construir ambientes, a trabalhar os tempos fílmicos, que deixam que a forma surja pelo que está em fronte da câmara, na cena, na dramaturgia em jogo. Pode-se afirmar que não existe um único tour de force em todo este filme, que nenhuma cena se destaca pelos meios usados, pela mudança de tom/ritmo e da coerência e olhar adoptado, etc. É, no entanto, esse o grande trunfo e o pequeno milagre. Se não temos aqui cinéfilia embasbacada, temos no entanto um objecto que nos remete para uma das grandes tradições do cinema americano pós clássico, em alguns casos clássico. Thriller de espionagem, mistério, o que se lhe chamar. “Breach”, na sua admirável coesão e nos cortantes mecanismos de suspense, na precisão do seu timing e no geométrico trabalho espacial e de claro/escuro – Tak Fujimoto é um puto de um mestre – faz aparecer os ecos de um grande cinema, sentido no contra campo, para atingir a candura e a frescura pela forma como se interessa e como olha a humanidade em jogo. Coisa que, por exemplo, Pakula era mestre. Lisibilidade, dramaturgia perfeitamente em sintonia com o pressuposto e com o meio (filme no gelado que nunca é gelado), surdina grave.

Ainda vale dizer que Chris Cooper é humano e não boneco, que tem o papel da vida dele. Conselho sério: o Nolan, antes de ver Mann, que, convenhamos, é complicado e faz confusão – engana e excita sobretudo – que veja este pequeno filme.

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