(...) Até que um dia, indo eu a Lisboa com alguns colegas de turma, com o intuito de transferir a película que filmamos para um suporte digital, ao entrar no Laboratório da Tóbis, dou de cara com Pedro Costa, ele mesmo, sentado num sofá à minha frente.
Não resisti, num furioso impulso cumprimentei-o, sentei-me a seu lado e trocamos algumas palavras.
Durante esse curto espaço de tempo, que considero dos maiores privilégios que até hoje tive na minha vida, Pedro Costa, ele mesmo, disse-me algo que me fez ter vontade de *escrever sobre “Juventude em Marcha”, algo que me fez perder o medo.
Meio atordoado por estar a falar com alguém que sempre admirei, perguntei-lhe como é que ele, com o vídeo digital, conseguia criar os planos que vemos nos seus filmes (para mim tão fortes e belos como os de Ford ou de Ozu).
A resposta dele, com a sua incomensurável humildade, deixou-me de rastos, ao mesmo tempo que me libertou e me fez compreender muitas coisas: “Eu não sou mágico, toda a gente pode fazer a mesma coisa”.
Claro que ainda hoje estou a pensar nessa frase, não querendo acreditar muito nela, mas acreditando e percebendo ao mesmo tempo o alcance moral, ético, dessas palavras, ou seja, os seus filmes e estas palavras são uma e a mesma coisa – um trabalho artesanal, de amor, tão humilde como imponente. (...)
*o trabalho não interessa nada, nadinha. piece of scum.
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