Acabei de ver “La nuit du carrefour” de Jean Renoir, cineasta que, estranhamente e não sei bem porquê, não escrevo muito sobre. Já lá vou. Durante o visionamento pensava a cada segundo que estava defronte do mais belo filme do mundo. Do mais inocente, do mais puro, do mais fresco, do mais sensível, do mais terno. Visto na língua original, sem legendas, o que significa que mais uma vez tive a consciência da miséria do meu francês. Não faz mal, por uma vez não faz assim tão mal. Bastou estar maravilhado durante todo o tempo, com as imagens que não são deste mundo embora só a ele pertençam. De ouvidos bem abertos e a lembrar-me das palavras de Straub. Este também é o mais espantoso filme por causa do som directo, do encanto em relação a algo completamente novo – o filme é de 1932 – do maravilhamento em relação a essa nova e imensa potencialidade. Não há rendilhados nem remendos. Há uma bruitage sonora que parece conter o mundo inteiro, do mais obvio até ao mais insignificante. Pobre do meu medíocre sistema sonoro 4.1, que se viu e desejou para reproduzir tal empreitada e tal milagre. Disse milagre, pois é isso mas também não é isso. Há muito nevoeiro, muita brisa e muito ar fresco. Mas a arte de Renoir é, de facto e em todos os sentidos, a do humanismo. Truffaut disse que Renoir não detinha um estilo, não tinha tal pretensão. Interessava-lhe as pessoas, os lugares, o mundo, digo eu. É por isso que não costumo falar muito deste tipo de arte. Sou muito novo e muito estúpido é o que é.
2 comentários:
Já agora, como é que arranjaste o filme?
(Eu tenho uma cópia, mas sem legendas, e o meu francês não dá para tanto)
uma cópia em dvd que alguém me arranjou. sem legendas. foi difícil, mas foi-me safando. de qualquer modo acho que vale ver de qualquer maneira.
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