quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Veredas.

Como todo grande filme (...) é um álbum de imagens de seu autor, uma corrente de obsessões e devaneios que oscilam entre o caos das origens e a reconciliação do fim, uma síntese progressiva , mágica e fatal dos momentos privilegiados de uma sensibilidade e dos instantes-mor que delineiam o retábulo de um mundo impenetrável, misterioso e único.

1 comentário:

José Oliveira disse...

Monteiro foi o maior dos criadores de álbuns de imagens próprias, de obsessões, de um desfilar de modos de vida, fascinações e repulsas. Da primeira à ultima imagem. Sobretudo em “Branca de Neve”, digo aos espertinhos. O mais furioso cultor do cinema como escrita na 1º pessoa. Existe algo que o põe à parte de tudo (só um Chaplin, um Stroheim, um Keaton) a exposição do seu corpo como matéria primordial, uma comunhão entre este e o cosmos, veja-se o universo como lançador do “eu” nos filmes da trilogia de João de Deus. Uma postura, uma entrega e um desfilar que tem o fim nesse corpo, nessa natureza, e logo no infinito, no desconhecido.

Contra os mercantilistas, os agnósticos e restante corja que insiste em pensar a superfície e o fundo do cinema como comunicação, satisfação estéril e passageira, harmonia entre os lados (cineasta, equipe técnica, publico), reconciliação.

Essa “cena” horrível que está nas escolas de cinema e que tem como expoente máximo a destruição de qualquer ideia de cinema como arte e como expressão própria, aqueles professores que todos os dias fazem o percurso das estações de televisão, onde ganham muito, para as escolas, e que mantém o mesmo discurso. Clarificar, vender bem o produto, ser agradável e diplomata, moralista. Ou os publicitários que um dia tiveram colhões e ideia próprias mas que hoje vem dizer aos alunos, uns com sede de cinema e de se expressarem, que existe um cliente, um patrão e um publico.

Eles que já não conseguem enfrentar o aluno apaixonado, a não ser pela autoridade de magnata ou do geniozinho de publicidade e de videoclip. Arrogância nos píncaros.

Álbuns de imagens próprias. Ámen.