“Talvez não seja por acaso que neste filme Ford dedique aos dois actores
together um dos mais longos planos fixos da sua obra (e Deus sabe como Ford gostava da imobilidade da câmara). Refiro-me à conversa de Stewart e Widmark, à beira rio. Desde que descem do cavalo, até à entrada de Andy Devine, sem um corte, a câmara não se desvia um segundo deles, nem eles dela, colocados no centro da idílica paisagem que os rodeia. E é nesse momento que se exprime o primeiro traço de união entre o xerife “horizontal” (aquelas pernas, imensamente abertas) e o tenente vertical (a contenção e o
underplaying de Widmark) : a misoginia. Como é nesse plano que vemos o tema dos 100% a fazer
raccord com o final (ou melhor dito, em termos éticos e estéticos), falso
raccord pois insinua a circularidade de tantas outras obras de Ford, sem a perfazer, como acontece igualmente com o plano inicial de Stewart e o plano do xerife que, lá para o fim do filme, o substituirá (plano idêntico, posição idêntica). “
João Bénard da CostaComo não tenho dúvidas que é neste fabuloso longo plano – reparem na data do filme, reparem – que, como disse um colega meu, Straub se apaixonou…é neste plano que vivem os planos de Costa (nas barracas ou fora delas), apaixonando-se também…um plano que em plena euforia da Nouvelle Vague já lhe indicaria um rumo. É preciso ver sempre este plano.
É esta a ordem de peso presente na banalíssima e tão fundamental conversa há beira-rio e entre dois charutos que a vida vive e que o cinema se salva. Questão de raccords.
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