O filme de Robert Kramer desenvolve-se num outro nível. Depois de ter trabalhado na Europa, nomeadamente em Portugal, onde esteve pessoalmente envolvido na Revolução dos Cravos, Kramer retorna ao seu país de origem com o seu amigo de longa data, Paul McIsaac. Decidem, para verificar o estado da nação, como os nossos presidentes da República gostam tanto de comentar, percorrer uma estrada Norte Americana, a tal Route One, que vai desde o norte do país, perto do Canadá até à Flórida, no sul do país. E nessa tal viagem decidem ir ao encontro de tudo o que encontram, desde a paisagem física até à humana.
O filme é imenso. Desde a sua duração (4 horas e meia) até ao seu conteúdo, este espalha-se por territórios raramente trilhados por algum autor cinematográfico. Nunca o Cinema se aproximou tanto do Homem, logo da Vida, logo da Verdade. Ou melhor, da busca da Verdade. Kramer filma o bom do Homem, o mau do Homem, mas de uma maneira tão sensível e terrena que juízos de valores são, desde o princípio, logo excluídos. Do filme ficam os sentimentos, as pessoas encontradas ao longo da viagem, os verdadeiros Estados Unidos vistos pela câmara de filmar (e, numa perspectiva de Vertov, a câmara de filmar como um verdadeiro olho humano) de um realizador, de um autor que nunca recusou a realidade tal como ela o é: complexa porque ninguém consegue perceber quão simples são as pessoas. Porque ninguém consegue perceber quão simples é esta busca impossível da Verdade. Porque ninguém consegue perceber o verdadeiro sentido do Cinema.
Rogério Feitor
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