No sentido em que David W. Griffith referiu que o cinema deveria servir para filmar o vento nas árvores. E nunca como neste filme de Mizoguchi, Oyû-sama, 1951, a expressão foi levada tão à letra. Literalmente, pois nunca a natureza – árvores, água, céu, lua, etc… – foi assim agarrada, nem metaforicamente, pois o que o Japonês faz é captar todas as nuances, tragédias, enfim…os destinos de percursos humanos. Toda a gordura que se pudesse colar é vigorosamente eliminada – estamos na essência das tragédias.
É um prodígio a maneira como a natureza nos é dada, monumentalmente iluminada e sentida, volumosa.
Como prodigiosa é a forma – que paradoxo – como o terror das casualidades e das aceitações dos labirintos nos é transmitida, com uma agudez lancinante.
Filme mais terrífico sobre um triângulo incombinável não existe, e o final é o mais doloroso e o mais pacificado que me lembro.
Depois é toda a arte do plano sem cortes, no auge absoluto. A maneira de reenquadrar na mesma sequência – aquela em que Shizu confessa ao marido que casou com ele por conveniência é toda a arte deste intransmissível segredo da envolvência e da modulação. Obra-prima maior que Obra-prima, e constatação primordial que considerar Kenzi Mizoguchi como apenas um realizador é ridículo.
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