segunda-feira, 30 de junho de 2008

Aleksandr Sokurov essencial e depurado. Depois da bela estilização e dos belos maneirismos de filmes como Otets i syn, passada a proeza técnica (e um pouco inútil) sobre o plano sequência em Russkiy kovcheg, Sokurov encontrou a distância certa, a distância sublime, uma secura estética e narrativa que espanta.
E com um tão pequeno objecto, secreto e silencioso, Aleksandra é o agigantamento de um cineasta.
É obvio que é um regresso à temática da relação filial de certos filmes anteriores, uma certa redescoberta, uma vivencia estranha, um pouco fora de tempo e em paisagem insólita.
Mas é sobretudo um filme sobre essa coisa da guerra, do conflito, da maneira como ela tem vindo a ser representada.
Aleksandra Nikolaevna é, quase como num filme de Capra, um anjo que vai habitando entre o posto dos soldados e o lado de fora, no contra-campo.
Todos a contemplam, pasmam-se e a admiram, todos lhe pedem favores, inclusive os impossíveis. Ela, mulher altiva e angelical, parece saber o que todos sentem e necessitam. Presença de uma paz radiante e complacente.
Contra todos os espectáculos dos filmes sobre a guerra esta é a lição de um poeta, pois Aleksandra existe também sempre nessa dimensão. Filme justo e realista e filme poético como sempre.
É o génio deste cineasta, também com uma grande lição sobre a manipulação de imagem à posteriori que todos deveriam aprender.

2 comentários:

Carlos Pereira disse...

É poesia, sim, e uma ode ao significado de ser mãe, avó, mulher, o anjo de que falas. Daí o tempo parar a olhar para ela: trata-se de um elemento que nunca morou naquele espaço de guerra, e por isso emana uma aura e um fulgor estranhos, mas acolhedores.


p.s.: chegou a estrear por aí?

José Oliveira disse...

exacto.

no Porto não estreou ainda.