"(...)Depois, quando já a noite era muito noite, consegui finalmente tempo para ver o filme que mais queria ver. Night ou Shy, para os íntimos, Night Shyamalan para mim. Quando ele me começou a narrar, em desenhos animados, a história do diálogo interrompido entre as criaturas das águas e as criaturas das terras, lembrei-me de César Monteiro e de Borges, e do diálogo (também interrompido) entre as criaturas dos espelhos e as criaturas espelháveis. Enterrei-me na cadeira e deixei que me pegassem ao colo para ouvir a história da Senhora que se chamava História (Story) e que veio das águas, como se diz que os anjos vêm do céu. E só no fim do filme percebi que, naquela casa fruste, sobre uma piscina matricial e fronteira ao verde primordial, todos estavam por uma razão e todos estavam para uma razão. Ninguém a mais, ninguém a menos. (...)"
João Bénard da Costa
Público, 5/11/06
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Shyamalan, pois é...um dos cineastas, senão “O” cineasta que mais me põe na duvida no cinema actual, tout court.
Bom...sei que Unbreackble é uma obra-prima mas não tenho certezas em relação a mais nada...Grande domínio da mise en scene, duração dos planos anti-Hollywood, nisto é peculiar, mas...aquela filosofia (meta linguagem, "meta"...) e uma gordura que por vezes andam por lá ainda me vão fazer rever muito.
Em vésperas de estreia de The Happening, falta o rufar de tambores e a fruição do costume, as referencias, etc...muito melhor, a coisa parece mais literal, violenta e sem rendilhados, a ver vamos...
3 comentários:
Pois eu não duvido de Shyamalan nem por um momento. O crescendo até Lady in the Water é tremendo, e no entanto é sabido que Shyamalan começou já em cima, com o sublime The Sixth Sense. O seu poder de crítica, a sua construção de ambiências, a sua tónica - sempre no Amor, na fé, na capacidade de chegar ao outro e quebrar obstáculos. E vejamos Lady in the Water - cada plano é sacro, vivo, permanecendo em nós. Se não for considerado um dos maiores da sua geração, então algo estará mal.
Acho que parte do problema de Shyamalan é que ele não especialmente um grande narrador (é fácil, o que seus filmes tem de mais frágil), mas acredita muito nas suas capacidades de contador de histórias. Lady in the Water tem mise en scene das mais expressivas, algumas belas sequencias, etc., mas é um filme sobre fabulação que permanece exclusivamente teórico, porque incapaz de fazer a propria fabula funcionar (essencial para a proposta do filme).
"não especialmente um grande narrador"
"Lady in the Water tem mise en scene das mais expressivas, algumas belas sequencias"
isso
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