segunda-feira, 30 de junho de 2008

Milagre Dreyer

No cinema, não há nada mais fácil do que conseguir um milagre. Todos nós sabemos que a actriz que “está a fazer” de Inger não está morta e que ressuscitá-la depende apenas de uma ordem do realizador. Mas o prodígio daquela mise-en-scène (desde a composição dos planos aos tão suaves movimentos de câmara, à iluminação de actores e décor) é fazer-nos acreditar que, na verdade, vimos um milagre e vimos um corpo morto ressuscitar em toda a glória da vida. A promessa de Cristo. “Se um dia, com verdadeira fé, disseres aquela montanha que se mova, a montanha mover-se-á”. As montanhas nunca se moveram, como os mortos nunca ressuscitaram (a não ser no “caso especial” de Cristo também evocado no filme).
Mas eu vi isso acontecer (e é, sem dúvida, o mais pasmoso dos milagres) em Ordet.
Se me disserem que é cinema eu respondo que não é, não.

J.B.Costa

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