terça-feira, 17 de junho de 2008


Belíssimo filme terrível este “The Happening”, belíssimo…acho que mesmo com todos os acontecimentos horrendos que percorrem a obra de Shyamalan, esta será uma palavra justa.
Sobretudo porque este tratamento do tempo cinematográfico e do tempo da natureza já não existe mais no cinema americano, já acabou.
Já ninguém é capaz de suster estaticamente a câmara o tempo que o Indiano sustém, como já pouca gente gasta tão poucos planos.
Filme de fé num mundo e de fé no humano (na tela e para aquém dela), filme em que todos os reversos confluem para a criação do terror que é terror porque dificilmente se explica. O mesmo para o milagre final.
Uma sequência, aquela em que o condutor do carro onde viaja a personagem de Leguizamo se suicida: a duração que de uma só vez respeita o homem e o mistério; uma ética que “fecha o mundo” no carro e não sai lá para fora – o show off elidido; e no momento do embate toda a moral que Rivette expõe no texto sobre o travelling de Kappo.
E depois, sim, porque é que Shyamalan não terá visto Griffith, Dovzhenko ou Resnais? Porque é que se duvida assim da intelectualidade de um homem? As pessoas que o fazem são as mesmas que se riem da cena em que Walbergh fala com a planta…
Eu não tenho dúvidas e mesmo que as tivesse raramente no cinema americanos dos últimos largos tempos vi coisas como as que vi neste filme, e não me refiro só ao vento nas árvores, ao vento na erva ou ás nuvens no céu…
Bom, a cena final, não a que encerra o filme mas a do casal, é a mais bonita e pacifica desde Miami Vice. (não é muito mas era muito desde Mann.)
E depois há que ver uma coisa: é um filme que começa nas nuvens, desce para baixo uma hora e meia e volta para os altos.

11 comentários:

Carlos Pereira disse...

"Sobretudo porque este tratamento do tempo cinematográfico e do tempo da natureza já não existe mais no cinema americano, já acabou."

É isso.

Ricardo [DIVERSITÀ] disse...

Belo seu texto. Como esta semana estou dedicando especialmente ao filme, vou replicá-lo lá no blog, ok? Por sinal, lhe convido às leituras do meu texto sobre Fim dos Tempos e da postagem sobre a filmografia comentada desse grande diretor.

Abraço's

José Oliveira disse...

copie e "roube" sempre o que quiser, eheh...

não conheçia o seu blog, claro que o vou ler,

Abraço

JHB disse...

"Sobretudo porque este tratamento do tempo cinematográfico e do tempo da natureza já não existe mais no cinema americano, já acabou."

Desculpa a pergunta de um leigo, que de cinema só sabe que gosta, e muito. E Terrence Malick?

José Oliveira disse...

...sabes, é obvio que sim, Malick têm que ser um caso singular. Mas concordo com aquilo que J.B.C escreveu, ou seja, existe um lirismo tal no cinema de Malick, combinado com a reflexão filosófica "avant la lettre" que é já outra coisa completamente transcendental e esotérica que tanto afasta Malick de alguma definição exacta como o retira de qualquer tempo...

Mas sim, cinematograficamente sim...embora repara na montagem de Malick e da de Shyamalan e nota como em Malick o corte, a ruptura do plano para "encaixar" o seguinte se dá quase sempre como que por forças desconhecidas, interiores, solares...em Shy a coisa é bem mais material, compacta, construída.

Apesar de todo um mundo de mistérios, o cinema do Indiano pertence mais à realidade do que ao cinema da imagens de Malick.

José Roberto Rocha Filho disse...

A cena final - Paris e tudo mais - me incomoda um bocado justamente por ser extremamente desnecessária após a citada última cena do casal protagonista; plácida no limite da exatidão.

José Oliveira disse...

sim, talvez, talvez devesse, essa cena, ter permanecido na sala de montagem.
Se tivesse que mudar algo acho que seria mesmo isso.

Juom disse...

Eu não mudaria a cena porque, tal como muitos elementos da própria natureza funcionam em ciclos, também o filme acaba por fazê-lo com essa cena final.

Ricardo [DIVERSITÀ] disse...

Eu não considero a cena final desnecessária. Li recentemente um comentário no Orkut que dizia que esta cena final fecha a visão do Shy: não tem saída mesmo! Ou resolve o problema ou resolve. Quando se acha que acabou, que existe a felicidade pelo futuro de um filho, o mundo continua acabando.

JHB disse...

Obrigado pela explicação. No fundo Shyamalan também me agrada mais do que Malick, mesmo por ser mais cru e desprendido.

Quanto à cena final não chego a nenhuma conclusão. Por um lado agrada-me a ideia de tudo aquilo continuar imparável e recomeçar sempre de novo. A despropósito, como Saramago faz nas Intermitências da morte. Por outro não gosto da ideia de considerar aquilo um "to be continued" como se vê em muita merda por aí.

De qualquer forma no geral nada se perde por aí.

José Oliveira disse...

de acordo.