«(…)As contradições de Dovjenko só podem sê-lo para quem nunca acreditou tão sinceramente como ele que era chegada a hora - após a revolução de 1917 - de dar voz aos “humilhados e ofendidos e dar a ver a terra calcada e os homens e as mulheres calcinadas. Não, a Terra, o Homem, o Povo, o Camponês ou outras maiúsculas abstratizantes, mas a concreta encarnação dessas grandes palavras e imagens na realidade que profundamente conhecia. Tudo é tão simples – e tão complexo – como isto. Dovjenko julgou – e toda a vida o acreditou – que era fácil que o percebessem. Mas como a fé não se compartilha, não o perceberam (ou perceberam-no bem de mais).»
(…)
«Talvez porque o protagonista do filme de Kazan (East of Eden), como o autor de Arsenal, tivesse sonhado demais com o paraíso, sem saber, ou esquecendo-o, que a condição humana é ficar a leste dele. Ninguém morre nesta terra como o Avô de A Terra. Mas não há sonho maior do que o de poder sonhar. E esse foi o sonho de Alexandr Dovjenko, de quem digo – godardianamente – que é o autor dos mais belos filmes de todos os tempos.»
(J.B.Costa, 1987) (em As Poéticas do Cinema, Carlos Melo Ferreira)
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