quarta-feira, 28 de maio de 2008

justo


Revejo, somente pela segunda vez, Ta'm e guilass de Kiarostami. A primeira tinha sido há uns anos, mostrou-mo a pessoa que só me podia ter mostrado. Foi um choque tão grande, com uma realidade que eu julgava não ser mais possível em filme, que nunca mais o vi.
Era o neo-realismo de Rossellini e os tempos de Ozu, dizia eu enquanto estudante…já não me interessa.
Desta vez resolvi revê-lo sem legendas, em Farsi original, uma dessas loucuras que gosto de fazer com filmes orientais e italianos.
Garanto: ganha-se muito. Não só podemos apreciar a paisagem pela janela, estar mais atentos aos sons, cheios de vida, ás acções dos trabalhadores, a um mundo…como dá para ficar muito mais próximo da angústia conformista, dos silêncios suicidas (Yuki, justamente) do protagonista. Dá para sentir, de forma bem mais aguda e terminal, o rosto fechado, a respiração, o despegamento às coisas e a paz de quem já nada receia.
Lembro-me que no final da sessão, onde vi o filme pela primeira vez, uns idiotas não perceberam o final. Bom: é ético e é o mais justo do mundo: como adivinhar ou registar a decisão do humano em pôr fim à vida? como resolver tamanho empreendimento de animo leve e de uma penada? Como?
Kiarostami estilhaçou a ficção e agravou ainda mais o que está para trás. Pensem em Mizoguchi, em Rosselini ou Antonioni, em qualquer cineasta ético e tirem conclusões…

2 comentários:

Júnior disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Oliveira disse...

Júnior: obrigado pela lição, agradeço sempre que quiseres!