É o amor aos duplos, reais, “flesh and blood”, na personagem do Stuntman Mike, da rapariga das acrobacias em cima do carro, o próprio bólide, entre tantas referências a essa maneira de fazes pré CGI, é das coisas mais tocantes, nostálgicas mesmo que o filme contém.
E o facto de não existir por aqui sombra de criação computorizada, de o próprio Kurt Russel realizar as acrobacias ou a utilização de Zoe Bell – dupla de profissão, em “Kill Bill, por exemplo – engrandecem o gesto e produzem uma espiral puramente analógica (ou carnal…)
Claro, por amor ao cinema, puro e duro, antes dos geniozinhos que inventam bonecos e carros através de pixels…e verdade verdadinha é que os homenzinhos de zeros e uns do matrix e a tão propalada perseguição desses filmes, e de todos os derivados, coram ao lado do que Tarantino produziu, á mão.
A mesma coisa para a excrescência de Emmerich que está nas salas; para os separadores televisivos de Gladiador; para o novo filme dos wachowski que nem o trailer consigo ver; para os rostos modificados por Lucas, etc…
A todo este plástico que enjoa, como diria Von Trier: “hoje as coisas são tão fáceis que enjoam, basta carregar num botão de computador e fazer aparecer um sol por detrás da paisagem” – Quentin Tarantino opõe a carne e o humano, bem como a função ontológica original da câmara de filmar, ou seja: captar um mundo, um real, este planeta, mesmo que passando pelo seu filtro estilizado.
E é isto, o cinema estará sempre ancorado ao real, por muito que os geniozinhos computem!
Tarantino, reinventando-se a cada filme, nunca deixou de pôr certas coisas no devido lugar – por aqui vislumbrar-se-á a ligação a Godard.
(já agora, nada contra o CGI bem utilizado…)
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