quinta-feira, 20 de março de 2008

Câmara – personagem


Existe um lutador á beira da reforma que nunca chegou a lado algum, luta por dinheiro ou por amor.
A sua mulher que fica nervosa com tudo isto e que está ansiosa que a carreira termine.
Vai haver um acordo entre o seu agente e uns mafiosos para ele perder e tudo vai correr mal.
Nada disto, o engano, o Set-Up, interessa muito.
Todo o filme está construído em dois factores: Robert Ryan no papel da sua vida – e que papéis ele teve, de House of Bamboo a The Wild Bunch – crepuscular, apaziguado, consciente que apenas quer uma vitória e têm a sua história feita.
E a câmara de Robert Wise: realização monumentalmente seca, justa em todos os aspectos da sua função; mise en scene que vai do corpo relaxado de Ryan á tensão da sua mulher; que capta os suores e as impaciências; que nunca entra em delírios, antes regista o último fogacho da profissão de um homem – combater.
Câmara – personagem, porque se alguma vez houve um filme com um trio formado por duas pessoas e uma máquina foi este. Nunca no cinema a câmara esteve tão á altura das emoções e da tentativa de captar o bater do coração, ou a “melodia do olhar” como diria Nicholas Ray, como neste filme.
Ryan, Audrey e a máquina de Wise é tudo a mesma coisa, corpo uno, algo com consciência de um crepúsculo, de mudança para outra vida. E o trio faz, literalmente, amor.

Sem comentários: