quinta-feira, 13 de março de 2008

para as distribuidoras e para os argumentistazinhos


"Okay. Well, it's not really one story, because that's the whole thing. I don't care about plots."

"Well, like I think every movie there needs to be a beginning, middle and end, but just not in that order [laughter], and like when I watch movies, the only thing I really remember are characters and specific scenes. So I wanted to make a filmmaking system entirely of that, really random."

"I grew up in Nashville in Tennessee, and I wanted to make a different film. I wanted to make a different kind of movie, because I don't see cinema in the same -- on the same kind of terms or the same way that narrative movies have been made for the past hundred years. I mean, we started with Griffith and we ended up with -- I don't know what the Hell is going on now but"

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São todas frases de um génio, espécie de poeta maldito a la Rimbaud da geração Y (como li uma vez na prémiere, eheh...) - Harmony Korine, o jovem que passava os tempos num skate parke, andou com a belissima Chloë Sevigny, e se apaixonou pelas narrativas libertárias de Godard ou de Herzog.Os seus filmes não têm propriamente linha narrativa, como Faulkner na literatura, está tudo diluído, mas por baixo da crosta está lá toda uma certa América interior, aquela que só raramente se vê nos telejornais.Ou como explica melhor o Vasco Câmara, o único critico semanal que em Portugal ainda me faz repensar e me irritar:

"Um tornado, animais pendurados em antenas de televisão, adolescentes transformados em "serial killers" e torturadores de gatos para venderem a carne ao restaurante chinês da localidade, ou uma "criança-coelho" a deambular em silenciosa vinheta surrealizante - algo de errado aconteceu no sul americano. Uma praga bíblica?É do centro de um mundo em ruinas que irrompem imagens num caleidoscópio de formatos e registos (vídeo, 16mm, super 8, polaroids) que está investido de um traumatismo irreversível. "White trash fantasia", chamaram a "Gummo", que também foi considerado pelo New York Times o "pior filme" de 1997. "Gummo" indignou a crítica americana e no entanto é irrecusável incluí-lo numa qualquer lista dos "melhores do ano". Por que não numa lista portuguesa, em 1999, para os filmes disponíveis em vídeo? Foi lançado directamente nesse suporte no mercado português, é portanto mais uma das incompreensíveis lacunas da distribuição em sala e é urgente que se pegue nele, até porque o seu realizador, Harmony Korine, está prestes a apresentar a sua segunda longa-metragem - acontecerá no próximo Festival de Veneza (onde aliás já tinha apresentado "Gummo") com "Julien: Donkey Boy", realizado sob os comandos do manifesto dinamarquês Dogma 95 (que deu origem a "Festen", de Thomas Vinterberg, ou a "Os Idiotas", de Lars von Trier).Harmony Korine? É o jovem auto-didacta que aos 21 anos escreveu para Larry Clark o argumento de "Kids". Dois anos depois realizaria "Gummo" (onde está, novamente, a actriz Cloe Sevigny) que, ao contrário do pretenso realismo e objectividade do filme de Clark, faz surf pelas vagas do onirismo surrealizante para chegar demasiado perto de qualquer coisa que é incrivelmente perigosa e que ultrapassa a divisão entre o humano e o monstruoso ("Freaks", de Todd Browning, vem-nos à memória ao ver uma cena de "engate" entre um adolescente e um anão ou um adolescente a devorar barras de chocolate durante o banho entre garfadas de "spaghetti). A crítica americana ficou chocada perante a invenção deste mundo, destas criaturas e o "mau gosto". É uma experiência cinematograficamente vertiginosa (é essa a sua "verdade"), Korine obriga-nos a enfrentar a proximidade do inferno e certamente que haverá algo de auto-indulgente nisso - mas a isso o realizador respondeu numa entrevista: "Para mim, a arte é uma voz, uma ideia e um ponto de vista vindos de uma única pessoa; auto-indulgência para mim é o mesmo que a obsessão de uma pessoa. Como é que um artista pode abdicar de ser auto-indulgente? Deixei de ver filmes porque à maior parte dos realizadores falta-lhes precisamente auto-indulgência".Com "Kids" imaginou-se naturalmente que Korine era um jovem a deixar que a sua experiência das ruas e dos clubes novaiorquinos fosse vampirizada por um fotógrafo tornado cineasta, Larry Clark. Nada de mais errado. Korine passou a adolescência no sul americano - Nashville, Tennessee, onde "Gummo" foi filmado - e, ao contrário, foi a experiência de Nova Iorque que lhe permitiu olhar para trás e perceber, tão maravilhado quanto horrorizado, o seu Sul. A visão aproxima-se, curiosamente, da desordem cósmica do romanesco "faulkneriano", e isso é portentoso num filme que recusa de forma voluntariosa a narrativa."Quis fazer um filme diferente porque não vejo o cinema da mesma maneira que os filmes de narrativa que têm sido feitos nos últimos cem anos", disse Korine no show televisivo de David Letterman, em 1997, quando o seu filme foi lançado - e logo a seguir destruído pela crítica - nos EUA. "Começámos com Griffith e acabámos com... não sei exactamente o que se passa agora mas, basicamente, nada mudou. Por isso quis que neste filme as imagens viessem de todas as direcções".

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Isto para pedir a uma qualquer distribuidora, estreiem: Mister Lonely, o filme que dividiu Cannnes, mas que recebeu estrondosa ovação de quem ficou!

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