Começa dentro de uma das barracas das Fontainhas, próximo de uma extensão de “Juventude em Marcha”, mas nos diálogos iniciais logo institui a fortíssima carga simbólica e nostálgica que irá em crescendo, com aquela tensão e serenidade imensa, até ao final…
E passado este plano, outras coisas parecem nascer, entrar no cinema incomensurável de Costa.
Sim, não há nada igual a isto no resto do mundo, e claro que assusta e afasta muita gente, mas se no filme anterior um certo cheiro a Western irrompia, Ford acima de tudo, aqui tudo isto será levado a uma quase espécie de sublimação, entre o agigantamento das personagens, os horizontes, os habitantes recortadas contra os fundos, bem como uma extensão paisagística que deixa agua na boca…até ao fabuloso plano final (indescritível).
Mas há, realmente, uma luminosidade, uma disposição dos gestos e dos planos, uma abertura das personagens, bem como uma maneira de cortar os planos e de manter a tensão dentro deles para lá de tudo o que já se viu…em Costa e em tudo o que a propósito deste se pode citar…
Cada vez mais reduzido ao “osso”, cada vez mais essencial, e cada vez mais imponente, é isto que faz do cinema de Costa algo brutal, algo que não me atrevo a escrever muito, para já…
São só 16 minutos, mas que puta de obra-prima!
E Godardianamente afirmo: valem mais estes 16 minutos, ou apenas um plano para bater a obra inteira de um Vasconcelos, um Leitão, de um Leonel Vieira ou de um Fragata, tudo do mesmo saco.
E se os episódios de Weerasethakul, de Bing, e mesmo de Ackerman são interessantes, “Tarrafal” esmaga tudo com a sua grandiosidade.
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