“...já é notável que Hawks se inscreva nesta representação orgânica, mas faz-lhe sofrer um tal tratamento que sai profundamente afectada, deformada. Quando ela se exprime plenamente, como no início de Red River em que o casal recortado no céu é igual a toda a natureza, a imagem é demasiado forte para poder durar. E quando dura, é sobre um outro modo, a imagem tem necessidade de se liquefazer, o horizonte une-se há ribeira, tanto em Red River como em Big Sky. Poder-se-á dizer que, em Hawks, a representação orgânica terrestre tende a esvaziar-se, e já só deixa subsistir funções fluidas quase abstractas que passam para o primeiro plano.”
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Sempre me fascinou esta passagem do Imagem-Movimento de Delleuze. Pela sua poética própria e porque é completamente justo aos filmes em questão. É verdade que em Red River é só mesmo o inicio – o mais Fordiano dos planos de Hawks – o homem e a mulher em cima do cavalo, o meio monumental a absorve-los.
É portanto em The Big Sky que toda a imagem tem necessidade de se liquefazer, o que faz deste filme, para mim, um dos pontos máximos e representativos da obra de Hawks.
Ou seja, como o mais primitivo dos cineastas, talvez só comparável a Walsh, é neste filme que tudo se dilui em relação a uma matéria primeira, fundadora – algo fluido e sem forma básica para primeiro plano, antes de tudo, add infinitum...
Nesta obra está todo o Hawks, do primitivismo ao companheirismo, da dureza á irónica recusa em comentar a técnica.
E é, politicamente e humanamente, um belo irmão de Cheyenne Autumm, obras totais.
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