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"The Killer" (1989) — A obra-prima de John Woo, não foi dos filmes mais populares do cineasta em Hong Kong — o seu sucesso no ocidente até criou ressentimentos na indústria local. Mas é o apogeu do seu cinema híbrido: encontro celestial entre Scorsese, Jean-Pierre Melville e a lealdade e honra das lendas marciais e heróicas chinesas, decantados por uma sensualidade lânguida e pelo romantismo terminal do cristão e moralista que John Woo é. Velas, cruzes e pombas saturam o amor entre um polícia e um assassino contratado que se tacteiam com as armas — entre eles, uma mulher cega. (O filme tem levado a uma "leitura" homossexual das personagens do cineasta). É um espectáculo fúnebre em que a vertigem erótica é diferida através de bailados de balas e corpos no ar. O final, é uma histérica citação do histérico final de "Duelo ao Sol", de King Vidor.
"Bullet in the Head" (1990) — Nas palavras de John Woo, o seu filme "mais pessoal" — e um falhanço em termos de público. É um épico que começa por ter uma componente autobiográfica — a primeira parte, inspirada na adolescência do realizador em Hong Kong, nos anos 60, com lutas de "gangs" e ideais por cumprir de "um mundo melhor". Acaba com a descida aos infernos do Vietname por três amigos e diz Woo que filmou isso com a dor que sentiu quando viu na televisão as imagens do massacre da Praça Tiananmen, em Pequim. É o seu filme mais pessimista e negro, para o qual não quis heróis românticos, e onde, em vez da amizade e do amor, restava um "shakespeariano" crânio no chão num dos mais paroxísticos finais da história do cinema.
"Hard Boiled" (1992) — O final de "Hard Boiled" já foi considerado o mais espectacular de um filme de acção em toda a história do cinema. John Woo teve 35 dias para filmar essa meia-hora final, um prodigioso carnaval pirotécnico num hospital — sinal do controle absoluto da produção de que gozava na indústria local, filmou sem "storyboards" e sem interferência dos estúdios nas "rushes". Foi o último filme feito em Hong Kong, antes da partida para Hollywood, e despediu-se com uma obra que já demonstrava uma consciência totalizante das suas marcas de assinatura — daí vêm a musculatura das coreografias e a ironia do herói, até então quase sempre melancólico, interpretado por Chow Yun-Fat ("The Killer").
Vasco Câmara better than ever
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