Para explicar o que está na tela podemos muito bem ir por aqui, o famoso diário do rejuvenescido Francis Ford Coppola.
Ou seja: uma vontade – e a independência em relações aos estúdios ajuda – de condensar numa película todos os gestos que ao longo destes anos não pôde pôr em marcha, uma consciência, e isto é paradoxal, de filme de velho artista.
Temos então lá todas as grandes influências sempre citadas – o surrealismo de Fellini, a vertente operática e trágica de Visconti; soluções estilistico-visuais de Kurosawa, por exemplo (aquelas luas ou meia-lua não enganam), bem como algo novo, e os filhos e restante família são decisivos (Roman, e companhias – bem como o seu sempre desejo de visionarismo, de estar sempre um passo á frente. A publicidade, os vídeo-clipes, a alta definição, os resquícios de Megalopolis, etc…)
A coisa é intrincada e o filme é um primo directo de The Fountain de Darren Aronofsky. A questão da consciência de um tempo curto (o tempo é questão demasiadamente evidenciada), a pulsão de reverter esta inevitabilidade, a proximidade de fins; o amor como elemento empolador e redentor de todos os actos; todas as físicas, metafísicas, filosofias e matemáticas como chave do irresolúvel, etc, etc,…
Francis sempre foi o mais megalómano, com Cimino, dos realizadores dos anos 70, todos sabemos, mas em concorrência a isto sempre houveram os silêncios e uma espécie de algo que poderemos considerar essencial. Todos os Padrinhos antes dos climax´s; as divagações terríficas de Willard rio acima em Apocalipse Now; e o cume: The Conversation, o seu melhor filme, o mais seco, espécie de paroxismo em surdina, tudo explosivamente interiorizado, para dentro, quase como em Ozu.
E a megalomania total, os filmes voluptuosos, encorpados, bigger than life: as partes finais da famosa trilogia; os fabulosos excessos de Apocalipse Now; a fantasia mística e nostálgica de Rumble fish, enfim, muito se poderia dissecar.
Ora bem, em Youth Without Youth estamos no lado fantasioso e mais que tudo. O resultado, como em The Fountain, é um autêntico fracasso. E eu gosto muito de Coppola, muito mesmo.
Filme absurdamente pastoso, excessivo, feio e sem qualquer principio de coerência, em qualquer das partes que compõe um filme.
Narrativamente é…nem é por ser inverosímil, é que não existe qualquer grampo de lucidez no caos, tudo é aleatório, sem fundo, pronto a servir os mais insondáveis enigmas. Informe, precisamente. Além de que a questão de fundo é de um primitivismo assustador (como em Matrix), ou seja, fica uma embrulhada justificativa das duas horas, e como são longas. Formalmente ainda é pior, e parece, como por mistério, completamente linkado a The Fountain – as imagens revertidas como caução da distorção temporal, um look F.C chunga e de mau gosto, uma panóplia de efeitos que só pretendem justificar o impossível do narrado.
Mas acho que Francis nunca desceu tão baixo, tudo parece académico, mesmo com o arsenal de piruetas, sem princípio de realização, sem ponto de vista de um grande cineasta (como ele é); soluções visuais inacreditavelmente mal amanhadas e desproporcionadas. Aquele preto e branco…a cena da descarga…a viagem…música insuportável…
Nem parece que está Coppola a enquadrar, a iluminar, a construir dramaturgia total…é tudo indistinto, bruto, coisa de tarefeiro ou de geniozinho precoce (Darren…)
Se alguma coisa tem de bom, só mesmo a pulsão da personagem de Roth (mesmo ai Hugh Jackman dá vinte a zero) ou uns certos planos de ambiente que por segundos nos trazem algo que está lá para trás na sua obra, bem como uma fabulosa transposição do H.D para 35mm…É terrível para quem gosta de Coppola, mas na minha humilde opinião é tudo isto…
2 comentários:
Nem uma menção à Alexandra Maria Lara?
é engraçada, muito engraçada, ahah!
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