"Na minha infância, a América era como uma religião. Durante a minha infância e adolescência eu sonhava com os espaços abertos da América. Os grandes espaços de deserto. O extraordinário "melting pot", a primeira nação feita com pessoas de todo o mundo. As estradas a direito, compridas - muito poeirentas, lamacentas - que começam não se saber onde e acabam não se sabe onde, porque a sua função é atravessar um continente. De repente os americanos de verdade entraram na minha vida - em jipes - e perturbaram todos os meus sonhos. Vieram libertar-me. Achei-os muito enérgicos mas também muito decepcionantes. Já não eram os americanos do Oeste. Eram soldados como quaisquer outros, com a única diferença de que eram vencedores. Homens materialistas, possessivos, senhores dos seus prazeres e dos bens materiais. Nos GI que perseguiam as nossas mulheres e vendiam cigarros no mercado negro eu não conseguia encontrar nada do que vira em Hemingway, Dos Passos ou Chandler. Nem em Mandrake, o mágico do coração grande, nem em Flash Gordon. Nada - ou quase nada - das grandes pradarias, ou dos semideuses da minha infância."
Sergio Leone
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