quinta-feira, 17 de abril de 2008

REC

É muito simples: durante um festival de efeitos e de enfeitos de imagens e de sons – sim, pois “ cinema directo” NÃO existe – só fica uma coisa: um vácuo total, pretensioso e falso várias vezes.
Não se percebe o interesse acerca do filme, nem falo dos festivais pois este têm os ingredientes certinhos para a armada espanhola atacar. Falo por exemplo de Burdeau ter escrito isto. Cinema sutil? Palhaçada.
Vejamos os primeiros 20 minutos, basicamente até ao primeiro ataque já dentro do prédio. Uma repórter, um operador de câmara – ou seja, Balagueró e Plaza – inseridos no oficio dos bombeiros. Nada se passa que a televisão não tenha já mostrado, e digo, já mostrou melhor pois só manipulou uma vez. Poder-se-á falar nas formas mas elas nada de interessante produzem, a não ser a tal mentira sobre a mentira – pior que televisão, reforço. Ainda por cima com tentativas de suspense patéticas, e isso será recorrente ao longo do filme: “será que algo se vai passar, ou vai ser uma seca?”
Muitos sorrisos, poses e a bomba estoura, a atmosfera pretende adensar-se mas as formas continuam a nada impressionar e os motivos facilmente se adivinham. Entrámos no prédio, acontece o ataque, os realizadores – o operador de câmara, sempre – pretendem o medo no escuro, no tremor da câmara, no som estilhaçado. Resultado: ataques como em todos os filmes do género que só mentem uma vez – para não me fazer de esperto cito “Os Pássaros” de Hitchcok – a pretensão do absolutamente realista, da mecânica desinteressante do jogo, o aleatório dispersivo.
O que esta “mise en scene” difere em relação aos “casos de policia”? Nada, a não ser uma pretensão de inventar uma forma de cinema que a televisão já utiliza há muito – uma reversão terrível. Os sustos e o medo? a geometria dos espaços e a gestão dos tempos? o crescendo e as atmosfera? (ou seja, coisas fundamentais do género) bem, há dezenas de realizadores que já o fizeram mil vezes melhor, do velho mestre a Wes Craven, de Dante a Argento, etc, etc…
E a metáfora do vampirismo dos media? É anedótica e no caso não serve para nada a não ser de caução para promover o filme como algo reflexivo e formalmente novo…é muito velho e no caso qualquer criança poderia estar a filmar aquilo que os encenadores estão a fazer.
Compare-se com a questionação da verdade de todas as imagens, de todas as plataformas, das verdades convencionadas, enfim, dos media em geral, de Redacted de Brian de Palma e dá para rir. Ou então, algo mais lúdico, como o portentoso Breaking News de Johnny To, prodígio de gestão do espaço/tempo (régua e esquadra) e de caustica imagem dos profissionais da televisão.
Há beira disto o que Sokurov meteu em cena em Arca Russa é de uma pertinência grandiosa e
The blair witch project safava-se pela sua crença amadora e quase infanil.
É tudo manipulado, várias vezes falso, pretensioso e um pouco patético. Haveria coisas que o poderiam levar para os terrenos da joissance e do medo, mas não existe, não há matéria que sustenha uma forma e vice-versa, sim um festival de aldrabice que não produz um susto ou algo memorável. Já passou tudo e este filme há muito que estava feito.

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