terça-feira, 29 de abril de 2008

Umberto

Os quatro anos que medeiam Ladri di biciclette (1948) e Umberto D (1952) é o da queda de uma palavra, o que equivale dizer a uma entrada noutra realidade. Ou seja, cai o Neo, fica o Realismo. Ladri era puríssimo na forma como o meio aparecia de forma bruta, crua, suja. O contrário do idealismo Americano. Umberto, é pois, certamente um dos pontos de viragem do cinema italiano. No mesmo ano Rosselini fazia Europa´51 e fechava as contas, Visconti seguia trajectória idêntica, etc…
Repare-se como a personagem principal, prodigioso Carlo Battisti, sofre, sofre muito, mas sempre um sofrimento digno, moralmente tocante, e como dúvida, se dúvida…
O génio e a compreensão de Vittorio De Sica é como que assimilar e apreender o tempo e construir uma forma que aumente ainda mais o humanismo e a dignidade da improvável personagem Bigger than life.
A arquitectura das imagens é notável, algo entre as escalas de Welles serenadas pelo cinematógrafo de Bresson, e o que arrepia é mesmo isso – um homem, um cão e a sua nobreza mais que tudo, inseridos num meio esculpido sabiamente, pacientemente.
É tudo doce no mais do que amargo, não tenho duvidas, os Straub e Costa passaram por aqui.

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