Como foi possível um critico como João Lopes ter escrito tamanha contradição, disparate mesmo, aqui:
“Ainda lembrando Scorsese, mas... ao contrário: James Gray filma «We Own the Night» (sobre a máfia russa em Nova Iorque) como uma espécie de derivação temática e formal de alguns títulos clássicos de Scorsese, incluindo, claro, «Tudo Bons Rapazes» — o resultado oscila entre a pompa e a vulgaridade, mais parecendo um episódio de rotina de uma série policial para televisão.”
Lamentável é dizer pouco, deste ridícula comparação. Pois bem, todos sabemos, e o João Lopes sabe muito bem, que o factor que anima e dá vida ás formas de Scorsese é uma espécie de fogo, uma fúria descontrolada; resumindo, basta lembrar o título da crónica escrita por Serge Toubiana na Cahiers du Cinema nº500 (precisamente dedicada a Scorsese): “Un processus de démolition”.
De resto o próprio cineasta sempre confessou que filmou a última parte de "Tudo Bons Rapazes", com o ritmo e o speed da droga. De resto é fragmentações a toda a linha, música a explodir, improvisação constante, etc…
Muito bem, Gray é completamente o contrário, em qualquer um dos três filmes. É estático, detentor de uma moral frontal e quase ascética no que ao posicionamento da câmara diz respeito, é lento e carregado no evoluir das tragédias, compões quadros de riquíssimas composições e texturas.
As suas narrativas são completamente lineares, não há um só truque de narrativa, como não existem piruetas estilísticas.
É nos pormenores que tudo se decide: a escuridão da personagem de Charlize Theoron em "The Yards"; ou o momento em que na discoteca, Phoenix, antes de ir confirmar a qualidade da droga, acende um cigarro com um fósforo.
Gray é o pronuncio calmo e concentrado da tragédia. Scorsese é um processo ultra violento, urdido da sua pulsão originária e das suas referências indecididas: de Cassavetes a Fellini, entre dezenas de exemplos.
E não se chame aos filmes de Gray, “filmes de mafiosos”, pois a essência é outra e mafiosos há em quase todos os filmes.
A coisa da televisão não comento, nesse ponto não há consciência…
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