sábado, 26 de abril de 2008

Eclisse

Em tempos de apoteótica exaltação a Blade Runner, e sabiamente guiado por Martin Scorsese, apeteceu-me rever L`Eclisse, um dos cúmulos da arte de Antonioni (o meu italiano favorito a par com Rossellini).
E sem fazer por isso pensei muito no filme de Scott – que só vi uma vez e não tenho vontade de rever – e cheguei á minha conclusão: está aqui tudo o que Blade tentou, o seu âmago.
A visão apocalíptica, uma espécie de assombração terminal, os encontros impossíveis, a alienação, etc…
Só que o Mestre Italiano sabe como por coisas destas, serenamente e sem os fumos e a sujeira que tanto fez história no Blade, em cena.
Em Blade está tudo, paradoxalmente, tão dilatado e óbvio que a mim não me causa qualquer impacto, pelo menos não ficou nada.
Em Eclisse só temos o essencial – a mise en scene que serenamente cria um vazio total, onde dentro do quadro só existe espaço para divagações corporais, para os não ditos apesar das tentativas, para trajectos sem rumo, para a tal constatação de impossibilidade de qualquer sentimento…
Mesmo com tempos e, se quisermos, noções estéticas aparte, o murro no estômago é de outra pujança.

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