…merda
Pois logo no primeiro ou segundo dia, enfim, mesmo nas aulas de apresentação te dizem isto: “não vais ser realizador, o mercado está mau, não há dinheiro, nem para nós que somos professores, e prepara-te para começares por apanhares cabos nas publicidades”
Mais: “é impossível fazer um filme, não há verbas, não há público, não existem os meios, etc”.
E o que faz o aluno regular: engole isto e deixa-se andar. Mas como eu de regular nunca tive nada, naquela escola, onde me tratavam como algo aparte (no pior dos sentidos), não acreditava nisso.
E Porquê? Porque não era da família deles, porque via os filmes do Pedro Costa, do Zang Jia-Ke, Cassavetes, muitas coisas do Godard, porque andava com as “Notas sobre o Cinematógrafo” do Bresson no bolso, porque sabia que duas ou três pessoas e muita vontade dava para fazer qualquer coisa com chama, etc…
E fiz, o que é facto é que fiz, eu e mais três colegas fizemos um filme de mais de uma hora, o meu tinha 3 planos e uma conversa entre o Godard e o Daney…como já disse, nunca passou em nenhum lado e deve estar na lixeira.
Porque nas aulas de produção, onde o fascismo era levado ao extremo, onde me eliminavam logo, devido aos meus filmes não ter as plots e o ponto médio que o mestre do argumento tinha ensinado, porque não acreditavam que era possível fazer algo útil, para alguém, diferente. Algo que não fosse só cinéfilia século XXI, ou ilustração do que vêm nos livros, sobre como fazer filmes facilmente, academicamente certos no argumento, com todas as coisinhas no sítio, etc…
Volto á montagem: o que eu queria era analisar, falar da surdina e do cinematógrafo do Bresson, da inexistência de montagem em Rosellini, nos planos sequência de Mizouguchi ou Ophuls, na duração em Ozu, etc…
Não, mostraram-me Spike Lee, Scorsese, (mesmo que eu goste muito deles, isso está aí em qualquer sala ou clube de vídeo meus amigos) carradas de anúncios publicitários, e diziam-me que o cinema agora era aquilo – Rydley Scott, Fincher, etc…
E se eu quisesse voltar atrás…e se eu não quero, e não quero mesmo as publicidades por muito que me paguem? E sair daí?
A solução é comprar uma câmara digital, meia dúzia de esferovites e lançarem-se ás feras….
4 comentários:
como eu te compreendo zé... e concordo em absoluto com o ultimo parágrafo. o segredo é lançarmo-nos às feras e não ficar à espera que nos arranjem um trabalhinho a passar cabo numa produtora qualquer. se queremos fazer filmes: é põr mãos à obra com muita paixão e persistência. um abraço
é mesmo isso: muito obrigado e cumprimentos...
Passei por aqui e os meus olhos pararam exactamente neste texto, ao qual se seguiu a leitura do primeiro. Deslumbraste-me em parte porque acredito no que dizes, em parte porque me disseste exactamente o que esperava ouvir, ou ler.
Estou neste momento num curso que bom, não é exactamente de cinema, mas aproxima-se, e depois de 5 meses estou completamente exausta de desilusões e de me matar a trabalhar para poder pagá-lo, para no fim sentir, mas sentir em toda a minha existência que não vai servir de nada.
Tenho esta paixão tão aguda dentro de mim ao cinema, que de vez em quando me desmancho a chorar ao imaginar-me a chegar ao meu sonho.
Mas às vezes fico mesmo triste, acabo por sem querer amaldiçoar o facto de ter nascido com este sonho sendo Portuguesa, e sendo rapariga.
Mas sei que tenho de seguir. Vou chegar lá, acredito tanto nisso! E tu, chegarás lá também com essa paixão toda não tenho dúvidas algumas!
Gostei muito do Blog! Fica a promessa que voltarei sempre que puder! :)
fes: volta sempre que quiseres!
obrigado pelas tuas palavras, o que eu escrevi é tudo muito simples: escrevi com a alma e com o coração; passei por isso tudo e por muito mais; sofri, muito, ninguém duvide; fizeram-me mal á cabeça;
e alguém vai ter que pagar por isso;
não lhes tenho medo, o que me fizeram, com o dinheiro que gastei, destruiram-me quase tudo.
Mas não vão conseguir - também hei-de chegar lá...e se não chegar sempre vi os filmes todos que queria e que eles nunca viram.
Cumprimentos
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